Saber perder
Após o término da apuração do segundo turno das eleições para presidente da República, incrivelmente observamos como o dissabor da derrota conseguiu levantar os ânimos das pessoas de forma equivocada nas redes sociais e nas rodas de conversas: nordestino não sabe votar, as classes C, D e E não merecem oportunidades no campo social porque jamais alcançarão o patamar das classes B e A, separatismo de São Paulo, retorno da ditadura militar, impeachment da Dilma, auditoria da apuração do pleito para presidente… No mínimo, lamentável!
Vivemos em um estado democrático de direito em que o Estado procura garantir o respeito das liberdades civis, dentre eles, o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais estabelecidas em lei. Nestas eleições, percebemos que pessoas e candidatos empunharam a bandeira da democracia, mas sequer conhecem de fato o real significado de um estado democrático de direito, que tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.
O segundo turno da eleição para presidente da República foi bastante disputado e equilibrado, e as campanhas dos dois candidatos, em alguns momentos, perderam o foco do que eles tinham de bom para apresentar aos eleitores e optaram por acusações mútuas. Passada a apuração dos votos, a democracia apresentou o candidato vitorioso, e, logo, nas redes sociais, o exercício da cidadania se tornou criminoso diante de postagens preconceituosas e ardis. Em uma situação como esta é que percebemos como o brasileiro alimenta um preconceito velado e hipócrita dentro do seu próprio círculo social.
No balanço geral das eleições de 2014, saber perder serve apenas para algumas pessoas e políticos, pois o ranço e a antidesportividade estiveram presentes nas mais diversas reações, despertando o ódio burro daqueles que reivindicam o retorno da ditadura militar, do impeachment e de uma auditoria nas apurações.
Saber perder faz parte do processo democrático e de todos os momentos de nossas vidas. É também sinal de sabedoria e de humildade. Não aceitar a derrota é vestir-se com a armadura da arrogância e da imaturidade. A democracia plena não aceita a animosidade, o ódio e o rancor. Não aceitar a legitimidade das urnas é inadmissível, quanto mais despertar preconceito contra este ou aquele cidadão brasileiro. É preciso saber perder, respeitando a dignidade dos outros cidadãos, mantendo a sua e acatando a legitimidade do estado democrático de direito do nosso país!