Imobilidade urbana!


Por JOSÉ LUIZ BRITTO BASTOS Mestre em engenharia de transportes

09/01/2015 às 07h00

Se não há mobilidade, há (i) mobilidade urbana. Algo comum nas cidades dos países em desenvolvimento. No Brasil, a Lei de Mobilidade Urbana nº 12.587/12 determina que as cidades com mais de 20 mil habitantes criem um plano de mobilidade urbana até abril de 2015. A lei, dentre outras diretrizes, prevê: prioridade para o transporte público sobre o individual, aliado a projetos de transporte coletivo estruturadores e indutores de desenvolvimento urbano integrado, assim como a preferência pela utilização de veículos não motorizados e estímulo às caminhadas a pé para as pequenas distâncias.

Para conseguir mobilidade satisfatória, o município conta com diversos instrumentos, como: controle de acesso e circulação temporária ou permanente de veículos motorizados em determinados locais; definição de mais faixas exclusivas nas vias públicas para o transporte público; restrições e proibições ao estacionamento público livre e/ou regulamentado; estímulo à implantação de estacionamentos privados; criação de mais espaços privativos para pedestres (calçadões); supressão de faixas de rolamento em determinadas vias para o alargamento de calçadas e implantação de ciclovias, pedágio urbano, etc.

São ações importantes que podem modificar radicalmente a caótica situação atual do trânsito nas cidades, onde o automóvel sempre tem tratamento prioritário, sendo o maior responsável pelos congestionamentos viários, que atrasam a vida das pessoas, causando prejuízo de aproximadamente R$ 98 bilhões, o que equivale mais ou menos a 2% do PIB do país.

Mas as cidades não podem parar. Então, a solução é pensar no transporte de massa, num sistema que funcione bem, que seja integrado e estimule o usuário a deixar na garagem o automóvel. A outra hipótese é trazer o emprego para perto das pessoas; planejar as cidades de maneira a serem criadas centralidades dentro da área urbana, o que evitaria o deslocamento diário de milhões de pessoas que perdem tempo com longas, demoradas e cansativas viagens, necessárias para atenderem às demandas pessoais.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, em Amsterdã, uma cidade pequena, tranquila e aprazível, seus metrôs, VLTs, ciclovias, hidrovias e ônibus funcionam perfeitamente, tornando os automóveis, na maioria das vezes, itens supérfluos. Só que, no Velho Continente, os governos não incentivam a aquisição de veículos nem mantêm os combustíveis artificialmente baratos, como se faz aqui. Resumindo: de um lado, cidades que tratam os automóveis como os vilões urbanos; do outro, a luta de classes que se transfere para o trânsito, sendo que aqui optamos pelo pior: ruas entupidas de carros, precária infraestrutura viária e transportes públicos de péssima qualidade!

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