Tão cheias de ‘nada’
Não é meu intuito generalizar, afinal, qualquer leitor crítico assimilará que existem exceções quanto ao que direi a seguir, e, de antemão, o parabenizo se você for uma desses leitores.
Enfim, o que observo ao meu redor são pessoas “cheias de si” mas “vazias de outros”. Quem são essas? São aquelas que respiram fundo, batem contra o peito e dizem: “Eu sou um cidadão!”, mas falam isso ocupando a vaga de deficiente, sem ter justificativa para isso. Quem são essas? São aquelas que propagam ter aversão ao preconceito, mas, ao ver uma batida de carro, instantaneamente pensam – e por vezes falam – “Certamente era uma mulher dirigindo!”. Quem são essas? São aquelas pessoas que são tão cheias de si que não têm espaço para os outros!
A verdade é que o termo “os outros” se tornou tão banal e insignificante que o ser humano em sua ignorância não consegue perceber que esse termo se refere a ele mesmo, afinal, todos nós somos “o outro” para alguém. Por que é tão difícil assimilar isso? Porque o ego da maioria é superior à sua sabedoria. Talvez seja esse excesso de “importância” que alguns creem possuir que os impede de enxergar o mundo ao redor, transformando o mínimo de educação nos tratos alheios em raras manifestações. Será que cumprimentar o porteiro, desejar bom-dia ao motorista ou simplesmente sorrir para alguém que lhe fez um favor, mesmo que seja rotineiro, é caro demais? Sinceramente, nunca vi alguém ficar na miséria por “doar” um pouco de educação. Pelo contrário, esta riqueza é do tipo que, ao ser dividida com outros, multiplica-se proporcionalmente. A verdade é que existem riquezas inacessíveis aos soberbos, longe dos orgulhosos e inalcançáveis aos hipócritas.
E se ao ler esse texto você pensou em alguém, que, no seu ponto de vista, “precisa mudar”, sinto dizer-lhe que de nada lhe valeu essa leitura. Afinal, a maior mudança que você pode fazer é a transformação de si mesmo. Não é vergonhoso reconhecer que há algo a ser melhorado; vergonhoso é ficar estático diante das possibilidades de metamorfoses. Comece a pensar na sua essência; será que você é apenas mais um ser “cheio de nada”? E se você pudesse oferecer o que tem de melhor para alguém, ofereceria o quê? Nada?
Enquanto o coletivo for apenas uma matéria da língua portuguesa, não poderemos ser sequer uma comunidade segundo prega a biologia; talvez a irracionalidade animal seja a proteção contra o individualismo.