A sutileza do esperançar


Por Tamires Cristina dos Reis Carlos Alvim, graduada em Pedagogia (FMG), especialista em Educação Infantil (UCAM) e mestranda (UFJF); bacharel em Ciências Humanas (UFJF) e Matheus dos Reis Gomes, graduando em Filosofia (UFJF) e pós-graduando em Ciência da Religião (Única)

08/01/2019 às 07h00- Atualizada 09/01/2019 às 20h30

“Aqui em casa pousou uma esperança.” Não me canso de ler uma frase que foi proferida certa vez pela escritora Clarice Lispector, em que, de uma forma quase impossível, transforma um sentimento quase insondável à interioridade do ser e configura-o a uma palavra que retrata a todos. Mas ela vai além, além do horizonte da imaginação humana, e transforma o próprio sentimento não apenas em uma simples palavra, algo comum que acontece com os escritores, mas em pura matéria. Matéria esta que pode ser experienciada, vista e tocada por toda a humanidade.

Diante disso, emerge uma “perspectiva” simples e ao mesmo tempo transformadora que pode ser observada na leveza de uma criança brincando com as asas de uma pequena borboleta, buscando constantemente um olhar inédito para os devaneios da vida. Clarice esperançosamente insiste que a esperança deverá pousar em nós, como aquele pequeno inseto.

Diante das mazelas da humanidade, buscamos dias melhores, tendo a esperança de sermos capazes de comungar, por completo, o amor na sua plenitude. A busca eminente que nos faz mover em direção a algo, traduz o caminhar, o agir e o esperançar.

Mario Sergio Cortella já salientava que “Paulo Freire, desde 2012, oficialmente patrono da educação brasileira, afirmava, e nós retornamos: é preciso ter esperança, mas tem de ser esperança do verbo ‘esperançar’, porque tem gente que tem esperança do verbo ‘esperar’, e não é essa a esperança, é pura espera”.

A espera de uma educação inclusiva, de qualidade, democrática, autônoma, causa estranheza nas palavras de Freire. Deveríamos não esperar, mas, sim, esperançar a sua concretização. Fato esse que passa por um processo transformador, que visa à inclinação de todos para além do esperar.

Retornando aos belos e sábios versos de Lispector, a “esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber”. É por isso que o cultivo da esperança em nosso ser deverá ser algo único, singelo e visceral. A esperança só se tornará matéria se apreciarmos a graciosidade da infância. Portanto “não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo”.

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