Tudo é por acaso, menos a intenção humana
Max Webber escreveu: “O fluxo do devir incomensurável flui incessantemente ao encontro da eternidade”, muito provavelmente fundamentado em Soren Kierkegaard, quando o mesmo escreveu que “o devir é ambíguo” e, portanto, aberto. Invariavelmente, temos que escolher somente um devir por vez a cada instante e, nesse instante que escolhemos para existir, tornamo-nos prisioneiros das nossas próprias escolhas.
No dia 6 de junho de 1944, aconteceu o desembarque das tropas aliadas na Normandia conhecido como o dia “D”. Decisões importantes foram feitas nos dias anteriores. O desembarque era para ter ocorrido no dia 5, mas, devido às mudanças nas condições climáticas, foi adiado para o dia seguinte. O capitão meteorologista J. M. Satagg previu que a forte neblina que começara ainda na madrugada do dia 5 perderia força, e o dia seguinte seria aceitável para fazer a operação “Overlod”. Quando perguntado por Eisenhower sobre a certeza da previsão, o capitão deu uma gargalhada e disse que era impossível dar tal certeza. As previsões eram precárias na época, ainda mais se tratando do Canal da Mancha. O general tomou uma decisão solitária: “Ok, vamos lá.”
O desembarque foi massacrante para os aliados, mas a tomada de posição na Normandia foi um sucesso. Eisenhower já tinha preparado um discurso para a derrota e, se ela tivesse mesmo acontecido, ele perderia o cargo? E Winston Churchill? Seria uma guerra longa? A Alemanha perderia a batalha para a Rússia, e a Europa viraria comunista? (Seria uma boa, talvez acabasse com a empáfia europeia). Ou os EUA jogariam suas bombas atômicas na Europa, e o Japão seria invadido pela Rússia? As variáveis são muitas…
Já em 1985, o então presidente eleito Tancredo Neves não chegou sequer a tomar posse do cargo, morreu em 21 de abril. Em sua campanha, Tancredo havia se submetido a uma agenda bastante extenuante e vinha sofrendo com fortes dores abdominais. O que aconteceria ao Brasil se Tancredo Neves tivesse tomado posse?
Cada vez mais, presencio o acaso em nossas vidas e, além de presenciá-lo, passei a respeitá-lo. Os místicos indignam-se quando fala-se no “acaso” (adoram o destino!), todavia, são eles que querem controlá-lo. O desconhecimento do devir nos faz precavidos e nos impulsiona aos estudos e pesquisas, para, em vão, tentarmos controlar o futuro. Pobre do homem, vive em média 75 anos e quer entender os 14 bilhões de anos que se passaram e ainda adivinhar outros tantos que ainda estão por vir… Descubra David Hume.