Eu fui multado


Por VANDERLEI TOMAZ - COLABORADOR

06/03/2014 às 06h00

E é verdade. Minha mãe estava internada, e eu dirigia pela Rua da Bahia rumo ao hospital. O celular tocou. Era minha irmã, e, então, preocupado com o assunto, atendi. Acho que a conversa não durou dois minutos, mas fui flagrado. Ao desligar, estava no cruzamento e percebi que na calçada havia um policial que me observou. Segui meu destino, com a certeza de que fui multado por dirigir falando ao telefone. Passado um tempo, não é que a multa chegou? Não o culpo por isso, afinal, ele cumpria o seu dever.

Hoje, reflito sobre a máquina arrecadadora formada pelos milhares de radares instalados no país. O que se arrecada em multas possivelmente é maior que o orçamento de muitas cidades. Se existem radares é porque existem infratores no trânsito. Outro dia, um amigo comentou, chateado, que foi multado por ter avançado no sinal vermelho. Também disse que já havia sido flagrado por excesso de velocidade. E praguejava contra as autoridades pelos fatos indefensáveis. Comentei que a sinalização sobre os limites permitidos e os semáforos foram feitos para quem respeita o trânsito. E tem o objetivo de discipliná-lo. Radares são para quem não cumpre a legislação. Isso protege motoristas e pedestres que agem corretamente. E estes instrumentos estão ficando cada vez mais sofisticados! Antes, se multava pelo excesso de velocidade. Hoje, se multa por avanço de sinal e por parada em cima da faixa. É justo que seja penalizado quem age assim. Afinal, ele coloca em risco quem obedece às regras do trânsito.

Mas é possível mudar isso a partir de uma grande campanha informando às pessoas quantas multas são aplicadas e quanto se paga por elas. Poderia ser dito quem fabrica, dá manutenção e opera estes instrumentos e quanto arrecadam por suas instalações. Não defendo aqui sua retirada, mas é um aviso aos distraídos de plantão (como eu fui) que, se as infrações diminuírem, não haverá sentido para essas empresas continuarem faturando e produzindo outras máquinas inteligentes. Estão ali porque alguns dirigem mal. E para eles foram fabricadas, já que garantem seu lucro. Não respeitam quem dirige na mesma via e nem o desprotegido do pedestre que a atravessa. Se a indústria das multas quebrar, não haverá condições de se manter radares funcionando. Fica caro. Cabe a nós o desafio de não querer participar desse orçamento.

Resolvi escrever este texto – com indignação e sem nenhuma ironia – porque, outro dia, eu atravessava a Avenida Rio Branco, na faixa e com o sinal aberto para pedestre, e quase fui atropelado por alguém que passou feito um louco avançando o sinal. Ainda é cedo para mim. Não me interessa virar manchete, ser nome de rua e nem à minha família receber uma coroa de flores por causa de um irresponsável solto nas ruas. Honestamente, tomara que ele tenha sido fotografado pelo semáforo inteligente. Com certeza, estará colaborando financeiramente para a permanência daquilo que ele odeia, mas que foi posto ali para me manter vivo. Se o fabricante fatura ou não, não será em cima de mim que irá lucrar.

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