Faça jus à justiça
Há alguns dias, os cidadãos deste país dividiram-se: uma porção comemorando, e a outra se indignando com o resultado da votação no Supremo Tribunal Federal. Com certeza, alguns desejaram estar no Supremo como juízes, quem sabe disseram: Se estivesse lá, os acusados sentiriam o peso da lei e veriam como é ‘bom’ fazer os outros sofrerem. É no mínimo interessante esse pensamento, pois muito já aprendemos em nossa A Casa do Caminho que não devemos fazer justiça com as próprias mãos, e sim fazer jus à justiça divina.
Em seu livro Na era do espírito, Chico Xavier ensina em termos espirituais que do demônio nasce o homem, e do homem nasce o anjo. A expressão demônio é para caracterizar fortemente a porção instintiva ainda predominante, os resíduos de animalidade atuando em nosso corpo psicossomático. Não é necessário muito esforço para comprovar a assertiva, basta olhar para o espelho ou para os lados e verificar que as criaturas humanas estão dispostas em uma escala progressiva, que vai do bandido ao santo. Um pratica o mal, e o outro faz o bem. O primeiro se afasta, e o segundo se aproxima dos ensinos do Cristo.
As divinas leis se expressam na justiça e no perdão. Então, o malfeitor de hoje será o cidadão do amanhã; o cidadão de hoje, o santo do futuro; dependendo, em grande parte, do esforço evolutivo do interessado, porque o ser humano consciente da encarnação apressa ou retarda sua evolução, e esta não se dará sem o estudo e a prática do Evangelho.
É muito curioso pensar que o Evangelho do Cristo não nos convida a exercer os trabalhos dos anjos, mas nos solicita a desempenhar a ação de servidor. É uma grande revolução de costumes. Comparando: o ouro é o símbolo da riqueza; entretanto, o esterco é o agente que assegura a vitalidade e o perfume da rosa. Necessitamos de muito exercício, de muito pensar, para compreender tão profundo ensino. Do que adianta o dinheiro e tudo mais se o que é belo e nos promove a paz independe do poder?
Se chamado a servir, nunca alegue inutilidade ou imperfeição. Jesus conhece claramente nossa condição de espíritos ainda incompletos e imperfeitos; mas, se nos dispusermos com valor e disciplina ao trabalho do bem, mais breve que possamos perceber, entraremos em vias de progresso. Não nos aflijamos com os outros. Cada espírito é uma individualidade e tem sua marcha própria. O comodista será sacudido e alijado de seu comodismo no luxo ostensivo ou na preguiça. Em um dia ou outro, a chibata da dor o movimentará na busca de alguma solução. O Evangelho nos ensina que podemos crescer por amor, que é a compreensão e harmonia, ou pela dor, que sempre é sofrimento.
Não somos anjos, porém, trazemos em nós a angelitude, essa porção divina que se manifesta em cada um, indicando o bom caminho a seguir. O Cristo está aqui, ao nosso lado, pronto para nos acolher assim que o desejarmos, por nossas escolhas e ações. A seara do Cristo é imensa e aguarda todo aquele de boa vontade.