É preciso tocar neste assunto


Por Antônio Aguiar, médico e vereador

05/05/2017 às 06h00- Atualizada 08/01/2018 às 17h17

Os estragos causados pelas drogas lícitas e ilícitas são conhecidos por milhares de pessoas que têm dependentes químicos em suas famílias. Diante de um problema que, muitas vezes, destrói lares e a própria vida destes dependentes, é preciso lembrar que hoje ainda são poucas as políticas públicas que conseguem algum sucesso no tratamento e na recuperação desta população. Não são raros os casos em que o apoio de igrejas e de organismos não governamentais tem sido a única alternativa. Portanto falar e debater sobre este grave quadro é nosso dever como representante público do cidadão juiz-forano.

Foi pensando nesta situação que fizemos o projeto de lei que institui o Dia Municipal de Redução de Danos em Juiz de Fora. Neste dia, lembrado anualmente em 24 de novembro – ocasião em que aconteceu o primeiro debate sobre o assunto no país em 1989 -, seria o momento de discutir a importância de políticas e estratégias no setor, incentivando ações para que a cidade abrisse o diálogo no sentido de se aproximar do usuário, estabelecendo um vínculo e buscando um tratamento. Pensamos que, assim, deixaríamos de tratar o usuário de entorpecentes apenas como um caso de segurança pública, já que, na busca pela manutenção do vício, muitos acabam praticando delitos e sendo agressivos dentro do próprio meio familiar.

A cidade, assim como o estado e o país, não pode mais esconder esta verdadeira epidemia em que se transformou o uso de drogas, principalmente o crack, portanto não se pode omitir mais a necessidade de uma política de redução de danos. E o que é esta política e como surgiu no país? Esta política é aquela que busca melhorar a qualidade de vida dos usuários de drogas, procurando cuidar da saúde daquelas pessoas que não conseguem ou não desejam a abstinência como solução para resolver o vício. É um meio-termo possível que tem gerado debates na sociedade, mas que tem sido defendido por especialistas em saúde pública diante de décadas e décadas de sofrimento e problemas sem solução. A estratégia da redução de danos, então, pode ser vista como mais direta, realista e abrangente no cuidado com o usuário de álcool e outras drogas.

No Brasil, ela começou a ser usada como alternativa na cidade de Santos (SP), em 1989, diante do reconhecimento da ameaça da disseminação do vírus HIV, já tendo sido adotada também em São Paulo, com o programa social “De braços abertos”, que oferece empregos, alimentação e capacitação profissional para usuários de drogas. Dados oficiais apontam que 88% dos participantes do programa afirmaram ter reduzido o consumo de crack com a iniciativa. A pesquisa foi feita com 400 pessoas. Em Juiz de Fora, não podemos mais tapar os olhos diante de bolsões de uso de drogas que vão se formando, como o entorno da linha férrea. A opção não pode ser apenas deixar as pessoas adoecerem ou morrerem.

Mesmo que a política de redução de danos não esteja sendo proposta ainda como programa de saúde pública no município, nossa ideia é iniciar este rico debate, separando aquele que deve ser visto como dependente, que precisa enfrentar desafios diariamente, e reafirmando nossa posição veementemente contrária ao tráfico de drogas, considerado, por nós, um dos maiores e mais trágicos problemas do país.Reafirmamos que a redução de danos pode beneficiar não só quem usa drogas mas suas famílias e toda a comunidade. Isso porque seu compromisso é com a saúde pública e com os direitos humanos.

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