Cultura da responsabilização
Impressiona a maneira pela qual a sociedade brasileira permitiu que o atual quadro político-econômico se formasse. Qual é a parcela de permissivismo que cabe a cada um de nós cidadãos? Quanto dessa omissão nos é imputada?
Nossas representações necessitam de constante atenção, de cada cidadão, para que cumpram seus objetivos, o que não tem acontecido. Permitimos esse destrambelhado, espúrio e devassador modus operandi utilizado pela classe política, pautando-se, exclusivamente, no atendimento de interesses pessoais e de grupelhos que se locupletam através de arranjos.
Aceitamos que “o político bom rouba, mas faz” e nos omitimos das decisões comunitárias; “pessoas de bem não vão para a política”; “Não vou participar de tal entidade, porque ela não faz nada por mim” (sempre “mim”). Assim fica fácil para os “bandidos” que fazem o que querem com “mocinhos”.
Não estamos tomando conta nem cobrando daqueles que escolhemos para serem nossos vereadores e prefeitos e não fiscalizamos onde é gasto o suado dinheiro que nós pagamos através dos impostos. Vamos ter que encontrar outro caminho, uma nova maneira de fazer política. Há urgência em encontrar outras opções, sob pena de chegarmos ao caos absoluto.
Já existe uma sociedade organizada em pirâmide, e sua base são as instituições: associações de bairro, entidades representativas, sindicatos, etc., e é ali que se inicia a prática da boa política. O que falta são as “pessoas de bem” assumirem-nas, fechando o espaço para aqueles que querem apenas “se dar bem”. Começa no andar de baixo o comprometimento de toda a pirâmide política. É o que estamos vendo.
Temos que promover, então, uma “cultura da responsabilização”, que convide as pessoas de bem a emprestar à sociedade o melhor que cada um tem dentro de si, a participar efetivamente das instituições, fortalecendo-a, encontrando um equilíbrio entre a individualidade (autonomia) de cada um e o seu pertencimento à coletividade.
Frei Beto citou Guimarães Rosa ao dizer que, atualmente, nos encontramos na terceira margem do rio; saímos de um período em que a ética era pautada por valores religiosos, consciência de pecado, culpa diante de Deus, mas ainda não atingimos a margem socrática da ética fundada na razão, alicerçada em princípios kantianos e assegurada por instituições que sejam mais fortes que as virtudes humanas.
Leonardo Boff prega a “ética do cuidado” baseada na “responsabilidade”. É ela que protege, potencia, preserva, cura e previne. Por sua natureza, a “ética do cuidado” não é agressiva e quando intervém na realidade o faz tomando em consideração as consequências benéficas ou maléficas da intervenção.
Vamos, então, juntar nossas categorias, nossos amigos e parceiros, e promover essa cultura da responsabilização, desenvolvendo uma consciência política. Vamos levantar as possíveis falhas em nosso processo político, expô-los à sociedade e encontrar soluções democráticas, dessa vez para valer.