Paixão x razão


Por Padre José Leles da Silva, diretor-secretário da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora

04/10/2018 às 07h00- Atualizada 04/10/2018 às 07h53

Sou atleticano desde as calças curtas. Isso me dá credibilidade para falar do rival Cruzeiro. A última grande partida do time celeste, no Estádio La Bombonera, no dia 19 de setembro, me fez refletir. A razão me fez entender que houve uma grande injustiça. Dedé, jogador do Cruzeiro, tirado de campo, por pura arbitrariedade. Expulso sem razão. Para os apaixonados pelos “los hermanos” do Boca Juniors foi, tão somente, uma batalha vencida, rumo à Libertadores. Vitória da paixão.

Agora, digo o que penso. Futebol é paixão. Irracional. A gente fica cego. Importa que meu time traga o troféu. O fim justifica os meios. Neste ambiente futebolístico se ouve dizer: “Ganhar é bom; roubado, melhor ainda!”

A paixão cega. Só enxergo as qualidades do meu time. Quero a derrota do meu adversário, mesmo que com golpes baixos.

A política é razão, ou melhor, deveria ser. É organização da pólis. Antes, a razão: o bem comum acima de tudo, a supremacia da justiça, a paz estabelecida. Depois, a paixão: a celebração, a festa, a memória.

Preferia estar enganado, mas, infelizmente, sinto que não estou. Estamos tratando a política como futebol. Estamos cegos pela paixão, pela cor da camisa do meu partido. Estamos “partidos”.

A política me chama ao campo. Convida-me a suar a camisa, lutar pelo todo. O futebol me coloca na arquibancada. Fico na torcida organizada, fazendo terrorismo à torcida contrária.

No futebol é assim: fulano, hoje, é a estrela do meu time. Amanhã, alguém oferece alguns “euros” a mais, e lá se vai meu jogador preferido. Desde então, não será mais o “cara”, por mais que jogue, não merecerá mais o meu aplauso. Ao mudar de campo, desalojo-o do meu coração, pois já não habitava na minha razão.

A política aceita a crítica, se deixa passar pelo crivo que leva à correção, à “reorganização” da pólis. O futebol se permite o elogio, mesmo que não seja sincero, que leva à corrupção, à “desorganização” da cidade dos homens.

Estou enganado ou estão pensando que militante político é membro de torcida organizada?

Um a zero para a paixão…

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