A onça-pintada do museu


Por Vanderlei Tomaz, Colaborador

04/05/2019 às 17h12- Atualizada 10/05/2019 às 15h31

Sou de uma geração que teve a oportunidade de visitar o Museu Mariano Procópio quando era ainda estudante do ensino fundamental. Lá, pude conhecer seu rico mobiliário, a pinacoteca, as indumentárias, as esculturas, as peças decorativas e sacras, as porcelanas e os cristais.

Mas o que muito impressionava as crianças naquelas ocasiões de visitas era o acervo do setor de História Natural. No meio de fósseis e minerais, destacavam-se os animais empalhados: cobras e macacos, lobo e preguiça. Paca, tatu, cotia não. “Cotia no, tia.” Digo, cotia não tinha. Ah, mas tinha a onça-pintada.

Com cerca de dois metros de envergadura, aquele animal morto – preparado pelo processo de taxidermia -, impunha tanto respeito que parecia querer fugir de seu cercado de vidro e correr pelos corredores e escadas do lugar.

A onça-pintada empalhada foi doada a Alfredo Ferreira Lage, o filho de Mariano Procópio e criador do nosso principal museu. Sabe-se que vivia em nossa Zona da Mata quando foi capturada e morta. É provável que já tenha cem anos.

Desejei escrever sobre o assunto neste momento em que a cidade recebe as imagens de uma onça-pintada que passeia à noite pelo nosso Jardim Botânico, um muito feliz projeto conduzido pela nossa UFJF. Acompanho as notícias e me mantenho atento às observações dos biólogos que tratam o caso.

Gostaria, porém, de acrescentar que, embora em processo de extinção, esta espécie de mamífero sempre esteve presente em nosso território. Em publicações de diferentes períodos, quando narram sobre a fauna encontrada em nossa cidade, a onça-pintada é citada.

O magnífico Álbum do Município de Juiz de Fora, de Albino Esteves, publicado em 1915, no capítulo que descreve nossa flora e fauna (página 99), faz menção à existência aqui da onça-pintada, dentre outros.

Desejo vida longa a esta antiga moradora recém-descoberta. Que viva em paz com sua família. Que caminhe tranquilamente em seus passeios noturnos pela Mata do Krambeck ou por outras reservas biológicas da cidade, como a do Poço D’Anta e Santa Cândida.

Assim como a capivara, uma de suas presas, a onça-pintada nos chega agora como um novo e querido personagem da cidade.

Seja bem-vinda, dona onça! Mas cuidado com o bicho homem. Ele é mais cruel. Então, crescei e multiplicai!

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