Bagunça e falácias


Por CLÁUDIO PELLINI VARGAS PROFESSOR

04/03/2014 às 06h00

Há algo, no mínimo, estranho na resposta da presidente Dilma ao ser questionada sobre o posicionamento do Brasil diante da crise na Venezuela no evento em Bruxelas. Entre evasivas discursivas (comuns de sua retórica), ela mais uma vez se perdeu. Ao afirmar que não deve se posicionar e interferir nas questões histórico-políticas do país, e por tentar – sutilmente – valorizar a política venezuelana do excêntrico Maduro, ela mostrou claramente ao mundo sua fraqueza moral (sempre abaixo de sua ideologia), para além da falta de coerência com sua própria história, enquanto afirma ter lutado por liberdade no governo militar. Não seria muito lembrar o posicionamento internacional de repúdio da Casa Branca contra as leis homofóbicas na Uganda.

Mas essa comparação é um mero detalhe diante do quadro econômico na América do Sul, e para o qual nosso Governo insiste em fechar seus olhos. O Brasil, em 2012, em vez de se aliar a países em busca de avanços no livre mercado, como o Peru, Colômbia e Chile, optou por aceitar a Venezuela no Mercosul, já deteriorado devido às ações equivocadas da economia argentina. A Aliança do Pacífico também inclui o México. Reunidos, representam 36% da economia da América Latina, já exportaram cerca de 60% a mais que o Mercosul e ainda eliminaram muitas tarifas de importação. Considerando a economia argentina em colapso e o Governo venezuelano reprimindo com violência a oposição, que podemos esperar? E por que Dilma se reportou dessa forma em importante conferência com a União Europeia? Teria relação com o financiamento do Porto em Cuba pelo BNDES ou com o pronunciamento de Lula a favor de Maduro e da memória do fascismo esquerdista de Hugo Chavez, que circulou na TV estatal da Venezuela? Ora, o fascismo é uma política próxima à extrema direita e à extrema esquerda simultaneamente. É o passo a mais para a covardia, seja qual for o lado do espectro político.

É sabido, ainda, que os países do Pacífico se uniram por se sentirem ignorados pelo Brasil e ameaçados pela Venezuela desde os tempos áureos das loucuras de Chavez. Estavam certos, pois suas economias continuam crescendo, com suas bolsas colidindo com a de São Paulo. Concluo, ao assistir as cenas brutais em Caracas, que o Brasil deveria deixar o Maduro apodrecer de vez.

E alerto ainda que, se o Governo voltar atrás, haverá um risco: os colegas sul-americanos podem não nos querer mais, pois o gigante brasileiro que os ignorou (esse mesmo que acordou em 2013 e que comeu pizza nos rolezinhos dos shoppings em 2014), pode até atrapalhar a integração que já existe. Afinal, e para além do futebol e do MMA, também somos muito bons de bagunça…

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