Lucidez ao sair do Senado


Por Paulo Cesar de Oliveira - jornalistas e diretor-geral das revistas Brasil e Robb Report

04/01/2015 às 07h00- Atualizada 05/01/2015 às 20h23

Pouco mais do que uma nota de pé de página em alguns jornais de grande circulação, o pronunciamento do senador José Sarney, em sua despedida da vida parlamentar na última semana, teve repercussão menor do que deveria ter. A fala do senador abordou uma questão crucial na vida política brasileira: a mania de ex-presidentes de insistir em se manterem na vida político-partidária.

Sarney fez até uma mea-culpa, afirmando arrependimento por ter, após deixar a Presidência da República, buscado um novo mandato. Com uma sensatez pouco usual em seu mais de meio século de mandatos e mandonismo político, Sarney propõe que se proíba no Brasil a candidatura de um ex-presidente da República a qualquer cargo. Sarney acerta em sua proposta. Sua fala pode até mesmo servir de conselho para Lula, que anda falando em disputar novamente a Presidência, coisa que só mesmo a militância petista – a mais radical delas – acredita.

Quem ocupou o cargo máximo do país deveria se afastar da vida partidária, preservar o cargo que ocupou. Não se expor, como fez Itamar Franco, que deixou a Presidência da República com elevados índices de aprovação para depois exercer um polêmico e sofrível mandato de governador em Minas e um inexpressivo novo mandato de senador. Collor é outro que, absolvido das acusações que o tiraram da Presidência, está aí na vida política, ocupando uma vaga no Senado e espaço nos escândalos da Petrobras.

Fernando Henrique também tenta manter um protagonismo na vida política, embora tenha tido o discernimento de não buscar um novo mandato. Talvez ele e Lula servissem mais ao país se não esquecessem que são ex, e que ex muito ajuda se não atrapalha. Sarney falou também, e ninguém prestou muita atenção, da importância de se acabar com a reeleição, de se adotar mandatos de cinco, e não de quatro anos, e de redução do número de partidos.

Boas ideias para serem debatidas na reforma política que anunciam. Poderia ter sugerido também uma limitação no número de mandatos que um político pode exercer. Talvez seja uma boa medida para oxigenar a vida política brasileira, evitando assim que outros Sarneys se perpetuem nas casas legislativas.

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