Doença que não vende remédio


Por DÉBORA FAJARDO Jornalista

03/11/2013 às 07h00

Todo mundo sabe dos efeitos danosos do cigarro, do álcool e das drogas em geral. Mas há uma doença escondida cujos efeitos e causa pouca gente conhece. Pelo menos no Brasil. É provocada pelo glúten, e seus efeitos são terríveis para quem tem DSG (doença por sensibilidade ao glúten). A mais conhecida das DSGs é a doença celíaca, mas há também a dermatite herpetiforme e outras mais raras. Os médicos envolvidos com essa questão alertam que é pouco ensinada nas escolas de medicina brasileiras, e nem todos os médicos sabem diagnosticá-la. O glúten é uma proteína presente em cinco cereais: trigo, aveia, centeio, cevada e malte – que é um subproduto da cevada.

Todos os anos, vemos campanhas para a prevenção do AVC, diabetes, câncer, controle da pressão arterial. Mas da doença celíaca ninguém fala. É inevitável questionar o motivo de tamanho descaso, especialmente por parte das autoridades de saúde. A DSG não tem cura e não é tratada com remédios. O tratamento para o celíaco é ficar longe do glúten, não consumi-lo. Não é preciso ter a inteligência do Einstein para saber que, se não vende remédio, nenhum laboratório da poderosa indústria farmacêutica irá pesquisá-la. A doença celíaca não gira a roda da economia, não impulsiona o comércio de medicamentos, não gera impostos.

Em países desenvolvidos, os celíacos já alcançaram avanços consideráveis, principalmente na Europa. Na Itália, os refeitórios públicos, como escolas e hospitais, são obrigados a oferecer a opção sem glúten. Alguns governos concedem incentivos fiscais para quem precisa dessa alimentação, já que os produtos sem glúten em geral são mais caros. Na Inglaterra, as gôndolas dos supermercados disponibilizam uma profusão de opções sem glúten, que não devem nada em sabor e qualidade aos produtos tradicionais feitos com trigo. Por aqui, as ofertas ainda são raras e caras.

O pior de tudo é que a maioria dos celíacos brasileiros nem imagina que a doença existe. Ela pode se manifestar com sintomas clássicos, com sintomas raros e até sem sintomas. O prejuízo é o mesmo, com ou sem sintomas. As doenças decorrentes podem ser várias caso o celíaco continue a ingerir glúten: diabetes, câncer, doenças nos rins e na tireoide, entre outras. Como é pouco conhecida e difícil de ser diagnosticada, alguns pacientes vão peregrinando de especialista em especialista, sem descobrir ao certo o que têm. Alguns chegam a ser encaminhados a psiquiatras, sugerindo-se que estão com depressão, já que não se encontra a causa real do seu problema. No Brasil, a prevalência da doença é no Sul e no Sudeste, regiões colonizadas por europeus do Norte, onde há maior incidência.

É importante destacar que toda pessoa tem direito de fazer o exame para saber se é celíaco em hospitais públicos. Se tiver dificuldades, pode fazer uma reclamação/denúncia no telefone 136, do Ministério da Saúde. Com relação ao descaso com que é tratada a doença celíaca no Brasil, torna-se oportuno citar a frase certeira da jornalista e escritora Sônia Hirsch: A saúde é subversiva, porque não dá lucro a ninguém!.

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