Violência: quebrando o ciclo
É notório e aflitivo o aumento considerável da violência, principalmente no ambiente das grandes cidades brasileiras. Apesar do avanço econômico e da visível melhoria das condições sociais no país nos últimos 20 anos, a violência segue como grande problema de saúde pública, sendo a terceira causa de mortes no Brasil. Os homicídios e acidentes de trânsito lideram este ranking, sendo que, nos primeiros, a arma de fogo é o principal instrumento, respondendo por 70% dos casos.
Dados do Ipea estimam que o custo da violência seja 5% do PIB nacional ou cerca de 200 bilhões de reais/ano. Os investimentos nesta área, apesar de crescentes, são ainda acanhados. Em 2009, foi gasto 1,5% do PIB, numa taxa de 22,9 homicídios para cada cem mil habitantes, enquanto, no Chile, gastou-se o mesmo percentual de seu PIB para uma taxa de 0,7 homicídios por cem mil habitantes.
Apesar de a violência ser um fenômeno complexo e multideterminado que faz parte da história da humanidade, podemos dizer, de forma científica, que violência gera violência. Assim, na base desta pirâmide multissetorial, observa-se que adultos que cometem crimes tiveram em sua vida histórias de abuso e negligência emocional e física durante a sua infância.
A neurociência aponta para modificações persistentes na função neuronal de crianças submetidas a estas condições, acarretando comprometimento futuro nas áreas emocional e social. Até os 2 anos de idade, é normal a agressividade na vida dos seres humanos, o que decai com a convivência escolar e familiar, quando a maternagem (cuidados reais ou substituídos por outros que repitam a boa convivência e cuidados maternos) é fundamental para a modelagem. A contenção, portanto, se dá por meio do convívio, inicialmente, através de pais e familiares.
A violência na infância e na adolescência eleva em até quatro vezes o envolvimento com drogas na idade adulta: 45% alcoólicos, 47% usuários de maconha e 50% usuários de cocaína relatam abusos na infância, sendo o abuso sexual o de maior produção de danos psicológicos e sociais ao longo da vida.
Desta forma, uma boa alternativa de intervenção com caráter preventivo seria focar nas políticas públicas no início da vida, antes do período escolar. Programas de cunho de melhoria da convivência social e terapêuticos – através de psicólogos e psiquiatras para a criança e a família, visando a melhorar os danos neurofuncionais adquiridos nos abusos e maus-tratos à criança e concomitantemente recuperando o ambiente familiar – seriam recursos importantes de intervenção neste complexo processo.
Afinal, a infância é uma janela de oportunidades para o trabalho preventivo. Resgatar na família o processo de maternagem poderá ser o diferencial para determinar como o indivíduo se relacionará social e afetivamente ao longo de toda a vida.