A família e a história


Por Tarcísio Delgado, Ex-prefeito de Juiz de Fora

02/11/2017 às 06h30

Certa família possuía grande patrimônio. Imóveis, fazenda, fábricas. Tudo conquistado em longo período histórico. Viveu, no caminhar do tempo, momentos de crescimento, de conquistas econômicas. Essa família não era homogênea, havia alguns membros bastante abastados, outros muito pobres.

Acontece que houve um tempo em que as coisas não andaram bem para os negócios da família. Depois de anos de grandes avanços, ocorreram outros de retrocesso. Os administradores dos negócios da família andaram praticando, além de má gestão, muitos desmandos e corrupção. A vida de todos ficou insustentável, o déficit aumentava, o que a fazenda e todo o patrimônio produziam não dava para as despesas correntes, e, a cada dia, as coisas pioravam. Má gestão e corrupção dominavam o ambiente. Depois do tempo de chefes probos e competentes, baseados em princípios morais, assumiu a chefia dos negócios, por meios ilegítimos, um chefe sempre questionado.

Os administradores dos bens da família começaram, então, a retirar, dos membros mais pobres, direitos adquiridos através dos anos. Nada disso refreava a queda do faturamento. “A vaca ia para o brejo.” Começou a haver cortes em coisas essenciais, como na educação e na saúde dos seus membros.
Os poderosos resolveram, então, vender os patrimônios mais valiosos. Como não havia compradores locais, venderam para os estrangeiros. Isso agradou, e muito, a esses poderosos e produziu recursos volumosos a curto prazo. Daí, os dados econômicos produziram resultados positivos. A chamada economia de mercado livre começou a apresentar bons índices. A curto prazo, é necessário anotar. Além de agradar aos operadores do mercado, dava a impressão aos mal informados de que a economia realmente estava bem, embora as consequências fossem desastrosas, principalmente para os mais pobres da família.

Pouco tempo mais tarde, os recursos da venda de todo o patrimônio acabaram. Não havendo mais patrimônio a ser vendido, os poderosos perderam a capacidade e o interesse nas coisas da família. Havia terminado o curto ciclo de dados econômicos positivos. Essa família estava falida. Os membros poderosos foram praticar suas maldades noutro terreiro, e os mais pobres sofreram com a fome e a miséria. Essa é a história de uma família muito conhecida. Todos fazemos parte dela.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.