Feito Midas
No século VIII a.C., viveu em Frígia (Turquia) um rei conhecido por Midas. A lenda ao seu redor tornou-se maior que a própria vida. Conta a história que, certa vez, Midas socorreu um pupilo do deus Dionísio, e este, por gratidão, realizaria um desejo seu. Midas pediu então que fosse dotado do poder de transformar em ouro tudo aquilo que tocasse. Contrariado por saber não ser aquela a melhor escolha, Dionísio o atendeu, conforme prometido. Midas seguiu caminho, jubiloso com o poder recém-adquirido, que se apressou em pôr à prova. Mal acreditou nos próprios olhos quando viu um raminho que arrancara de um carvalho transformar-se em ouro em sua mão.
Segurou uma pedra; ela mudou-se em ouro. Pegou um torrão de terra; virou ouro. Colheu um fruto da macieira, e o mesmo se deu. Sua alegria não conheceu limite e, logo que chegou à casa, ordenou aos criados que servissem um magnífico jantar. Então verificou, horrorizado, que, se tocasse o pão, este enrijecia em suas mãos; se levava comida à boca, seus dentes não conseguiam mastigá-la. Tomou um cálice de vinho, mas a bebida desceu-lhe pela boca como ouro derretido. Sua filha se encostou a ele e se transformou em ouro. Consternado com essa aflição sem precedentes, Midas lutou para livrar-se daquele poder. O dom tão sonhado tornou-se um horror.
A morte por angústia e inanição parecia iminente. Midas, em prantos, ergueu os braços, reluzentes de ouro, numa prece ao deus e implorou que o livrasse daquele mal fulgurante. Dionísio, divindade benévola, ouviu e consentiu. A água corrente desfaz o toque, disse-lhe o deus; mergulhas o que tocastes num rio, e os objetos em que tocaste voltarão a ser o que eram. Midas correu para cumprir o que dissera o deus e, com a água colhida em um jarro, foi banhando todos os objetos em que tocara, restituindo-lhes a natureza primitiva, a começar pela própria filha, que ele, então, pôde abraçar sem perigo de torná-la de ouro.
Os séculos se passaram, e continuamos feito Midas, na busca do toque de ouro, com o pensamento fixado nas materialidades enquanto afundamos os pés no lodaçal do sofrimento. Jesus nos ensinou as mais profundas lições de paz e felicidade. Renitentes, questionamos o mestre como se soubéssemos daquilo que está além da nossa curta visão.
Pai, perdoai-lhes, não sabem o que fazem, afirmou o mestre dos mestres no instante derradeiro. Porém, as consequências das nossas opções estão presentes nas ruas, nos lares. Até quando nós continuaremos buscando o ouro, implorando perdão, mas persistindo nas falhas e sem forças para suportar as consequências? Um dia, que certamente chegará para todos, nos descobriremos cercados de ouro e carentes de amor. Então, em prece, rogaremos sedentos ao pai como nos ensinou o Cristo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu….