Os ‘Brasis’ não percebidos


Por Tribuna

02/06/2015 às 04h00

MARIO LUIS MONACHESI GAIO, COLABORADOR

Recentemente, o blogueiro inglês Adam Smith escreveu sobre sua experiência de seis meses no Brasil. Disse que “brasileiros exageram na rejeição ao Brasil” e que são pessimistas em relação ao próprio país. O texto foi publicado pelo site da BBC. Ele critica essa postura e acha o Brasil “incrível”. Ele pauta suas conclusões basicamente numa suposta veneração que temos ao que é americano. Diz, por exemplo, que “(o estrangulamento da identidade brasileira) pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do samba e da Bossa Nova”.

Ora, se ele tivesse se afastado 50km em direção ao interior, perceberia que as músicas mais ouvidas não são americanas, mas sertanejos e pagodes bem brasileiros. Se fosse ao interior do Pará ou do Rio Grande do Sul, ouviria ainda outros estilos, incessantemente. Recentemente, numa viagem de Juiz de Fora a Belo Horizonte, sintonizando as rádios das cidades por onde eu passava, o estilo sertanejo era quase perene. Terminava uma música, começava outra.

Smith incorreu no mesmo erro que muitos cometem, e que ajuda na construção e na perpetuação de estereótipos: tomar uma parte e transformá-la no todo. Sua amostragem de brasileiros não representa a totalidade do povo que vive no Brasil. Suas observações, intui-se pelo texto, se limitaram a tempo exíguo, a uma só cidade e a um ambiente socioeconômico muito específico (classe média alta).

Smith talvez não se dê conta de que o Brasil tem 8,5 milhões de km² e 200 milhões de habitantes distribuídos em mais de 5.500 cidades. A Europa, excluindo a Rússia, tem seis milhões de km². São 49 estados nacionais num território menor do que um estado nacional, o Brasil.

A diversidade brasileira é enorme em qualquer contexto, e rotular brasileiros é sempre um equívoco. Nem todos sofrem de complexo de vira-latas como ele sugere. Resta saber por que ele considerou exceção a alegria de um vendedor de caipirinha do Rio, que agiu de forma oposta ao que ele considera comportamento padrão de todos os brasileiros.

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