Os cegos e o elefante


Por JOSÉ EDUARDO MODESTO Colaborador

01/11/2013 às 07h00

Vejam só o que escreveu F. Capra no livro Conexões ocultas – ciência para uma vida sustentável, citando M. Castells: as redes financeiras globais da nova economia são intrinsecamente instáveis. Produzem padrões aleatórios de turbulência informativa que podem desestabilizar qualquer empresa, bem como países ou regiões inteiras, independentemente de seu desempenho real. Mas isso tem alguma coisa com o Eike Batista?

Moderno, não? Mas isso foi escrito em 2001… Capra, como se sabe, é uma espécie de guru de uma candidata a presidente, atual candidata a vice como um prêmio de consolação, que parecia não se contentar com menos. O livro citado parece ser a sua segunda bíblia, apesar de o livro parecer mais um manual de boas práticas, mas que guardo junto com o autógrafo do autor. Seu último lançamento, de forma ortodoxa, é sobre o gênio Leonardo Da Vinci, bem diferente do livro best-seller O Tao da física, dos seus tempos de recente ex-usuário assumido de LSD, uma verdadeira viagem transcendental de fazer inveja a Paulo Coelho.

Capra, no livro Conexões, lista os princípios da ecologia: redes (coincidência?), ciclo, energia solar, alianças (parceria?!), diversidade e equilíbrio dinâmico, nada com muito impacto eleitoral, como se vê, a não ser na classe média, como sempre. Contudo, muito antes do Ocupem Wall Street, aconteceu o Conexão Seattle, no município de mesmo nome nos EUA, também citado por Capra assim: Em 30 de novembro de 1999, cerca de 50 mil pessoas fizeram um protesto apaixonado, magistralmente coordenado e quase totalmente não violento. A novidade agora é exatamente a violência, especialmente no Brasil e em outros países, como o Egito e a Síria. Mas o Brasil sempre foi violento…

Contudo, existe teoria mais atual. O sociólogo Rory McVeigh, da Universidade de Notre Dame, defende as teorias da mobilização de recursos e oportunidade política nesse recente movimento de rua no Brasil. Eventos como Copa e Olimpíadas deixam o país mais exposto, especialmente na mídia internacional tida como alternativa, como no Facebook, e que também passa a ser igualmente questionada com as confissões de E. Snowden. Além de espionados pelo Tio Sam, estaríamos sendo manipulados?

E o Eike? Estaria a serviço de uma nova onda de privataria com os recursos minerais brasileiros, repassando nossas riquezas às empresas estrangeiras adquiridas com as vantagens de ser um nativo e ter as benesses do BNDES, através da triangulação? E agora, a fábula. Seis sábios do Hindustão, embora fossem todos cegos, foram conhecer o elefante e saber com o que se parecia. Um cego pegou a pata e falou que o elefante parecia um tronco de uma árvore; o outro, a cauda, e falou que o elefante parecia com uma corda; o outro, o dorso, e o bicho era como uma muralha; o outro, as orelhas, e o paquiderme era como um leque; o outro, a tromba (mesmo!), e este era como uma cobra; o outro, a presa, e o elefante se parecia com uma lança. Ficaram discutindo por dias a fio, sem chegar a um acordo. Embora certos em parte, estavam todos errados. Quaisquer semelhanças com nossos comentaristas econômicos, sociais e políticos são mera coincidência… Ou não?

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