Cuidado com a Casa Comum – III
A 298ª encíclica da História da Igreja Católica, a encíclica Laudato si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum do Papa Francisco é muito rica e merece ainda algumas reflexões. Neste terceiro artigo, abordaremos os dois últimos capítulos, V e VI, da encíclica, que falam sobre linhas de orientação e ação e educação e espiritualidade ecológicas. O capítulo V aborda a pergunta sobre o que podemos e devemos fazer. As análises não podem ser suficientes: são necessárias propostas “de diálogo e de ação que envolvam seja cada um de nós seja a política internacional” (15) e “que nos ajudem a sair da espiral de autodestruição onde estamos a afundar” (163). Para o Papa Francisco, é imprescindível que a construção de caminhos concretos não seja enfrentada de modo ideológico, superficial ou reducionista. Por isso, é indispensável o diálogo, termo presente no título de cada seção deste capítulo: “Há discussões sobre questões relativas ao meio ambiente, em que é difícil chegar a um consenso. (…) a Igreja não pretende definir as questões científicas, nem se substituir à política, mas (eu) convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum” (188).
O Papa Francisco insiste sobre o desenvolvimento de processos de decisão honestos e transparentes, para poder “discernir” quais políticas e iniciativas empresariais poderão levar “a um desenvolvimento verdadeiramente integral” (185). Em particular, o estudo do impacto ambiental de um novo projeto “requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo” (182).
O último capítulo vai ao cerne da conversão ecológica à qual a Encíclica convida. As raízes da crise cultural agem em profundidade, e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. A educação e a formação continuam sendo desafios centrais: “toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo” (15); estão envolvidos todos os ambientes educacionais, por primeiro “a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese” (213).
O início é apostar “em uma mudança nos estilos de vida” (203-208), que também abre a possibilidade de “exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, econômico e social” (206). Isso é o que acontece quando as escolhas dos consumidores conseguem “a mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção” (206).
Após a Laudato si’, o exame de consciência, o instrumento que a Igreja sempre recomendou para orientar a própria vida à luz da relação com o Senhor, deverá incluir uma nova dimensão, considerando não apenas como se vive a comunhão com Deus, com os outros, consigo, mas também com todas as criaturas e a natureza.