História da solidariedade


Por VINÍCIUS CARNEIRO, MESTRE PELA UNIVERSIDAD AUTONOMA DE MADRID EM ESTUDOS CULTURAIS E PROFESSOR DE HISTÓRIA

01/05/2015 às 06h00

Passar em frente a uma loja de calcinhas na Rua Batista de Oliveira me faz sempre pensar com angústia. Queridos leitores, sou professor de história. Ando pela cidade observando passado e presente. A dita loja, num passado distante, foi sede de um dos primeiros sindicatos operários de Juiz de Fora.

Voltemos no tempo. No final do século 18 e início do século 19, Juiz de Fora era um dos maiores centros industriais do país. Imigrantes do mundo todo buscavam empregos por aqui. Com isso, surgiram os primeiros abusos patronais. E também os primeiros sindicatos. Os tempos eram duros. A jornada laboral era de 12 horas. Crianças, grávidas e idosos trabalhavam em lugares sem condições.

No Centro das Classes Operárias, o sindicato localizado na Rua Batista de Oliveira, número 131, se reuniam pedreiros, mestres cervejeiros, alfaiates, tecelões, professores, entre outras muitas profissões. O único requisito para a filiação era não ser patrão ou chefe de fábrica.

O sindicato era pequeno, mas já participava dos primeiros congressos de operários brasileiros. Aderia a manifestações públicas, construía fundos de greve e de pensão, já que não havia aposentadoria na época. Na sede, existia uma escola para os filhos dos operários. O sindicato também organizava piqueniques e passeios regados a cerveja alemã artesanal.

Atuante e combativo, o Centro das Classes Operárias lutou na primeira greve geral do Brasil em 1912. Sim, queridos leitores, existiu uma época em que todos cruzavam os braços em solidariedade! Foi dessa forma que os operários conquistaram a jornada laboral de oito horas e o fim do trabalho infantil.

Há 72 anos, não há grandes avanços nas leis trabalhistas. Minha angústia, ao olhar a loja de calcinhas, é perceber que somos como aquele velho prédio. Em algum momento da história, fomos mais unidos, não importava a profissão. Já tivemos no sindicato um refúgio para nós e para a nossa família. Já buscamos nos educar para além do mercado de trabalho. Vamos perdendo memória e, com ela, identidade. Assim como o Centro das Classes Operárias, fomos demolidos. Nos preocupamos apenas com o que nos é íntimo e esquecemos do fundamental: a solidariedade entre os operários.

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