Cristo nos libertou
Anualmente, por ocasião da Quaresma, a se iniciar na próxima quarta-feira, a Igreja convida seus membros à penitência, a intensificar as orações e os atos de misericórdia, como caminho para o crescimento pessoal e coletivo. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil propõe sempre um tema de uma realidade objetiva que configure pecado, em geral coletivo, que cause grande sofrimento humano para conhecimento, juízo e ações concretas dos cristãos, para que transformem essa realidade.
Nessa quaresma, o tema proposto é o grave problema do tráfico de pessoas.Todos os dias vemos nos jornais situações de pessoas que são traficadas. Migrantes pobres que são aliciados para trabalhos análogos a condições de escravidão, crianças para adoção. Tráfico para exploração sexual, por aliciamento e coação. O problema é universal, mas regiões onde a pobreza e a exclusão social predominam, como em diversas regiões brasileiras, são terras mais férteis para essas práticas. E a situação em que ficam essas pessoas vítimas de tráfico é a de escravas.
Observada a situação, compete a nós, cristãos, julgar, à luz da palavra de Deus. Podíamos usar infinitas fontes bíblicas para condenar essa situação. Mas nada mais forte que a palavra de São Paulo: Foi para a liberdade que Cristo vos libertou (Gl 5,1). Nossa fé, nosso compromisso cristão nos impede de concordar com a escravidão de pessoas.
Após ver e julgar, cabe-nos buscar ações cristãs para lutar contra toda forma de escravidão. Já existe no Brasil o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Mas o nosso agir cristão nos leva a organizarmo-nos para apoiar e cobrar de nossas autoridades que sejam tomadas medidas cada vez mais eficazes no enfrentamento do problema. Conscientizar nossos irmãos para a denúncia de situações claras ou suspeitas. Boicotar empresas denunciadas por trabalho escravo.
Aqueles cujo carisma não os leve para ações in loco ou não possam fazê-lo, também têm tarefas imensas participando de movimentos da sociedade civil, apoiando as pessoas que já estão lutando por políticas públicas contra essa realidade. É uma maneira concreta de preparar a Páscoa definitiva para nós e para todas as pessoas que sofrem com o tráfico.