O mea culpa feito pelo ministro Jaques Wagner, quando disse que o país não suportou o volume de desonerações e financiamentos feitos pela primeira gestão da presidente Dilma Rousseff, foi mais voltado para o público interno do que para as ruas, embora a essa tivesse sido oficialmente dirigido. O ministro da Casa Civil criticou o modelo econômico do ex-ministro Guido Mantega, que fez várias concessões, sobretudo às montadoras, e advertiu que tal prática não pode continuar, sob o risco de pôr a perder todo o resto de credibilidade que ainda resta ao Governo. A diminuição da arrecadação de impostos, no seu entendimento, é resultado da retração econômica e erros cometidos em anos anteriores.
Principal articulador do Governo, após a crise que resultou em ações pró impeachment da presidente, Wagner sabe que qualquer aventura agora é temerária, mesmo conhecendo as pressões para mudança do modelo econômico elaborado pelo ex-ministro Joaquim Levy. No início da semana, o presidente do diretório nacional do PT, Ruy Falcão, fez um duro ataque à gestão anterior e pregou a retomada do crescimento. O discurso de Wagner, menos de dois dias depois, foi um contraponto, pois o dirigente, a despeito das razões partidárias, falou no momento errado, na avaliação do Planalto.
Os desencontros dentro da estrutura de poder tornaram-se um problema, deixando o Governo refém não apenas das bases, mas também do próprio discurso. Quando convocou Joaquim Levy para colocar a economia nos trilhos, o Planalto fez uma aposta que ainda está valendo. A substituição por Nélson Barbosa, a despeito deste ser de outra escola, não implica em mudanças de rumo, uma vez que ações pendulares, num momento tão crítico, tiram a confiança do mercado e não ajudam na retomada do rumo certo que tanto se espera.