A história se repete

As autoridades anunciam inspeções, de fato necessárias, mas não dizem como irão executar um projeto de tal magnitude sem a suficiente mão de obra qualificada


Por Tribuna

31/01/2019 às 07h00- Atualizada 31/01/2019 às 07h31

O Governo federal e o do estado anunciaram uma maratona para inspecionar as mais de três mil barragens espalhadas pelo país afora – um terço delas em Minas – a fim de verificar possíveis riscos de rompimento. A medida se faz necessária, mas é fundamental discutir a sua efetividade. Em 2016, dois meses depois da tragédia de Mariana, na qual 19 pessoas morreram e que provocou um monumental dano ambiental, o discurso foi o mesmo. As empresas passaram para amplas investigações, mas não se sabe qual foi o resultado dessas perícias. Superada a fase mais crítica, a preocupação ficou por conta, apenas, das vítimas e das regiões afetadas pela poluição, mas não se falou em punições e pouco sobre as indenizações, muitas delas ainda não pagas pela Samarco.

Dito isso, resta saber qual forma de inspeção será feita, pois já se sabe, e não é de hoje, que o número de pessoas habilitadas para fazer tal serviço é bem aquém da demanda. Boa parte dessa atividade é feita por terceirizados, como os que deram o laudo isentando de risco a barragem de Brumadinho. Além disso, é necessário avaliar o dia seguinte, isto é, o que será feito daqui por diante, pois está claro que as barragens, em boa parte, são autênticas bombas-relógio, prestes a irem abaixo se as necessárias medidas não forem tomadas.

Desde o acidente de Mariana, a usina do Feijão, em Brumadinho, já estava no mapa das chamadas áreas críticas. A população, a despeito do ceticismo em torno da repetição da tragédia, sempre teve em sua agenda discussões frequentes sobre os riscos que corria, bastando acompanhar não só depoimentos, mas também vídeos abordando o que ocorreu em 2015. Populares dizem claramente que temiam o mesmo em relação à região. Não foram ouvidos pelos agentes públicos nem pela empresa, e o que restou, agora, é contar os mortos, pois nem todos terão direito a um sepultamento digno, ficando apenas na memória de seus familiares.

A discussão ambiental deve ser uma demanda permanente, a despeito do discurso tanto da instância federal quanto do Estado de afrouxar algumas regras. O que se viu foi exatamente o caminho contrário. É possível discutir alternativas, mas sem abrir mão da avaliação dos riscos que envolvem a população.

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