Quebra do tabu
Falar do suicídio tornou-se uma alternativa para conter os casos de autoextermínio; é preciso discutir o tema e buscar saídas para esses casos extremos
Até bem poucos anos, a palavra suicídio estava fora do vocabulário da mídia, salvo em casos em que a vítima tinha expressão nacional. Era um tabu sob o argumento de, com a divulgação, ampliar ainda mais as estatísticas. Essa postura mudou. Não por necessidade de se criar mais uma fonte de espetacularização nos meios de comunicação, mas por força de estudos dos especialistas. O silêncio é mais crítico do que a divulgação. Ademais, falar sobre o tema ajuda a sociedade a se dar conta de um problema que é extremamente grave.
Pelos dados apresentados – alguns deles estão na edição de domingo da TM -, o número de jovens e adolescentes que tiram a própria vida é preocupante. Em Juiz de Fora, em dez anos, o número de autoextermínio dobrou. Só este ano, foram 18 casos. Como se vê, trata-se de uma questão que precisa ser discutida, a fim de alertar ao Estado, para a necessidade de políticas públicas, e às famílias, para atenção para essa faixa de risco.
Os especialistas advertem que o autoextermínio vai além da escala social, estando presente, na maioria das vezes, nas faixas A e B, que, em tese, teriam menos problemas para resolver. Só que a depressão – uma das principais matrizes para o suicídio – não passa necessariamente por esse viés. Sua gênese envolve outros fatores.
A pós-modernidade tem forte influência nesse cenário, uma vez que as famílias também mudaram a sua conformação. Como destacam os próprios especialistas, a desatenção tornou-se uma rotina com o relacionamento, se dando mais pelas redes sociais do que pessoalmente. Dentro de casa, o diálogo encurtou, com os membros da família voltados para o seu próprio mundo à frente do celular ou do computador. Não há tempo para prestar atenção ao entorno. As tragédias, normalmente, são antecedidas de sinais não percebidos ante o modo ensimesmado dos personagens da casa.
Reverter esse quadro passa, necessariamente, por discussões profundas e envolvimento do Estado na elaboração de projetos que produzam o bem-estar coletivo. A religião também é estratégica, sobretudo quando se envolve no acolhimento, aquele que, em muitas vezes, falta dentro nos lares.