O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, é uma unanimidade. Ninguém quer vê-lo no cargo – do ex-presidente Fernando Henrique, que o considera sem condições morais para continuar, às manifestantes que foram às ruas de Juiz de Fora, na segunda-feira, com faixas pedindo o seu afastamento. Só ele, no entanto, acha que tudo não passa de artimanhas da oposição e que vai continuar exercendo o mandato que recebeu da maioria dos deputados para este e para o ano que vem.
Além dos aliados de sempre, o deputado conta ainda com as graças do Planalto, não por simpatia pessoal, em razão de ter em mãos a prerrogativa de abrir ou não o processo de impeachment da chefe do Governo. Mesmo assim, ante o constrangimento que afetava o partido, liberou os deputados do PT no Conselho de Ética a votar pela admissibilidade do processo por ferir o decoro parlamentar ao mentir para os próprios pares.
Até onde a corda vai ninguém sabe, mas, isolado e perdendo apoio até entre os seus, o deputado faria um favor ao país se topasse se afastar da presidência da Câmara. Na atual situação, se coloca acima da instituição, comprometendo o Legislativo já desgastado em demasia. Mas é a própria Câmara que deve resolver o problema que criou. Quando foi eleito, Eduardo Cunha teve votos do Governo e da oposição, cada um voltado para os seus interesses, embora todos – e não há exceção – já soubessem, há tempos, que ele se candidatou para representar interesses pouco republicanos e estabelecer um projeto de poder pessoal. Não há, pois, ingênuos ou inocentes nessa questão.