PARADOXO DAS RUAS
Desde 2013, o país vive uma experiência única e continuada de protestos, ora para criticar o Governo, ora para defendê-lo, mas com um viés que acumula contradições. A primeira delas, e também inaugurada há dois anos, foi a falta de uma bandeira específica. Quando os jovens – ainda sem os partidos – foram para as ruas, havia uma pauta abrangente que se resumia em temas distintos, com cada um, ao seu modo, protestando contra o status quo. Agora, quando os partidos já se misturam com as massas, as contradições permanecem, embora o foco seja mais fechado.
Nos protestos contra a presidente Dilma Rousseff e, por extensão, contra o Partido dos Trabalhadores, a despeito desse discurso, havia manifestações díspares, como as dos que defendem a volta do regime militar, o que, em tese, é uma pauta totalmente fora de propósito. A participação desses atores, respeitado o direito de manifestar, acaba se tornando um problema, pois os demais discordam desse discurso.
Na defesa do Governo não foi diferente. A presidente Dilma foi defendida pelos manifestantes, mas boa parte deles, senão a maioria, fazia duras críticas à sua política econômica. Mesmo colocando o foco no ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a ação econômica continua sendo da presidente. É difícil entender esse ataque e defesa no mesmo espaço.
Para os analistas, as manifestações vieram para ficar, mas não se sabe de que forma voltarão, pois a falta de uma proposta objetiva também tornou-se um problema. Na trincheira do contra, o PSDB ainda não consegue explicar sua crítica ao Governo, que faz a política econômica que o partido levou para os palanques de outubro. Não mudou nada, mas os tucanos, agora, são contra. Do outro lado, o PT, crítico do programa liberal, agora é induzido a defendê-lo. No meio de contradições, entra o PMDB, que rema de acordo com a maré, como sempre, com a eficiência própria de quem joga de acordo com quem está no poder.