CORDA ESTICADA
No encerramento da semana, o debate se voltou para um possível encontro dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique a fim de tratar da crise que assola o país. Seria uma conversa republicana de duas lideranças interessadas – acima de tudo – em resolver os impasses instalados tanto na política quanto na economia. Até o Planalto, segundo relatou ontem o matutino “Folha de S. Paulo”, estaria disposto a endossar as conversas, envolvendo a presidente Dilma Rousseff. Para uns, trata-se de uma possibilidade inútil, pois os dois políticos têm agendas distintas. Para outros, porém, o momento é crítico, exigindo de seus principais atores um diálogo acima das idiossincrasias de seus militantes.
Conversar, de fato, não faz mal a ninguém, mas é preciso agenda para o encontro, sobretudo pela beligerância que PT e PSDB sustentaram nos últimos anos e que foi exacerbada na recente campanha presidencial. A corda foi esticada em demasia, comprometendo ações conjuntas em nome do país e até mesmo de interesses partidários. Recentemente, as duas legendas tinham posição semelhante contra a redução da maioridade penal, mas em momento algum dialogaram, restando aos tucanos projetos alternativos, como os do senador José Serra, ampliando as penas do ECA, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, definindo que tipo de menor deveria ser punido como adulto, fugindo da ação inicial de colocar todos na mesma condição.
A primeira questão é saber o que os dois presidentes poderiam fazer para pacificar os ânimos ou reduzir o clima de campanha que continua nos palanques. Sem uma ação direta do Planalto, de nada adiantará a foto de ambos se cumprimentando, pois a conjuntura precisa de mais do que isso. Há impasses políticos e econômicos, muitos deles resultado da intransigência dos que não gostam de ouvir, preferindo agir por conta e risco, como se a verdade fosse única e exclusiva de sua competência.