Um plano mais do que Real
O Plano Real foi a última tentativa de controlar a inflação, e 30 anos depois, ele continua sólido a a moeda nos trilhos
Em 28 de fevereiro de 1986, quando a economia se aproximava de uma inflação de 200% ao ano, o presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado I que implicava em congelamento de preços e salários por um período inicial de 30 dias, que foi posteriormente estendido. O cruzeiro foi substituído pelo cruzado, com corte de três zeros, e acabou com a correção monetária, que era usada para atualizar os valores de contratos e poupança conforme a inflação.Também foi criado um gatilho salarial, que permitia o reajuste automático dos salários conforme a inflação.
O Plano Cruzado foi recebido com entusiasmo pela população, e Sarney surfa na popularidade do Governo. As ruas foram tomadas pelos “Fiscais do Sarney”, que tinham a
ousadia de fechar supermercados e lojas que estivessem com preços fora do previsto. Mas durou pouco: a incapacidade de controlar a oferta de dinheiro e a manutenção do congelamento dos preços levaram ao desabastecimento de produtos e crescimento do mercado negro.
Ainda em 1986, foi lançado o Plano Cruzado II, em princípio para corrigir as distorções do primeiro projeto, mas a inflação já estava fora de controle. Sarney cumpriu o restante do mandato, o país ganhou uma nova Constituição, mas a inflação continuava indomável. As apostas se voltam para o novo Governo. Caçador de marajás, o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor assumiu o cargo sob grande expectativa.
Logo após a posse, em 1990, foi lançado o Plano Collor, conhecido como Plano Brasil Novo, para enfrentar uma inflação de 80% ao mês deixada pelo antecessor. O confisco da poupança e contas correntes acima de 50 mil cruzados novos foi uma das medidas mais radicais. O cruzeiro, agora sem os zeros, voltou.
Collor, reconheça-se, abriu a economia ao mercado internacional e desregulamentou a economia, reduzindo a participação do Estado, mas a inflação, que deveria cair para 6% ao ano, não cedeu.
Em 1994, após Collor ter sido apeado do poder por um impeachment, seu vice, Itamar Franco, tomou posse cercado de desconfianças. E foi no seu mandato a grande virada de chave. O chanceler Fernando Henrique Cardoso estava em viagem a Nova York quando recebeu um telefonema do presidente o convidando a assumir a pasta da Fazenda. Rejeitou, mas foi informado que a nomeação já estava no Diário Oficial. Naquele momento foi selado o seu destino, pois, ao conduzir com uma equipe de economistas o Plano Real – desta vez não estava ligado ao nome do presidente -, foi dado fim à inflação e pavimentado o seu caminho para a presidência da República.
O Real chega sólido aos 30 anos e pouco se fala de Itamar. O ministro FHC recebeu todas as honras, mas, certamente, se tivesse dado errado, a culpa seria imputada ao presidente.