Obras inacabadas
O presidente classifica a descontinuidade de projetos uma “desgraça”, o que faz dele credor de diversos projetos federais à mercê do tempo
Em sua passagem por Pernambuco, o presidente Lula disse que uma das “desgraças” do país é a “descontinuidade de obras públicas” feitas pelas prefeituras, estados e pela União. A crítica atingiu até aliados. De acordo com o presidente, os respectivos chefes de Executivo são responsáveis pela interrupção, porque “cada governante quer criar a sua marca, o seu legado”, destacou.
O presidente tem razão e a prova está nos “esqueletos” espalhados pelo país afora, muitos deles sem qualquer perspectiva de solução. O presidente disse que o PAC 4 foi criado para resolver tais problemas, algo não tão simples, pois, pelas contas do Governo, pelo menos dez mil obras estão paradas. Haverá dinheiro para tanto?
O juiz-forano se defronta com alguns desses esqueletos. Ao viajar para o Rio de Janeiro, se depara com as obras inacabadas na Serra de Petrópolis, paralisadas há pelo menos 15 anos por ação do Tribunal de Contas da União e pelo desencontro de contas entre a Concer – concessionária do trecho Rio/Juiz de Fora – e a União.
A falta de solução penaliza quem não tem nada a ver com o imbróglio: o usuário. A despeito da sua qualidade, a BR-040 tem na Região Serrana o seu principal gargalo. O túnel de cinco quilômetros, que daria fim ao drama de quem vem em direção a Juiz de Fora continua sem data para inauguração.
Além disso, a eventual retomada das obras implica numa reavaliação dos projetos hoje submetidos ao tempo, que devem passar por uma ampla revisão do túnel.
Em Juiz de Fora há obras paradas e outras prometidas que ainda não foram executadas, embora sejam importantes para a população. Na instância federal há expectativa de conclusão do Hospital Universitário. O município, o Ministério da Saúde e a Ebserh, empresa gestora dos hospitais universitários, já tiveram uma primeira conversa, mas o projeto ainda foi retomado.
Os moradores da Cidade Alta também esperam a retomada (ou municipalização) da BR-444, e ainda produz um passivo no trânsito da região. O Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) conhece o problema e prometeu solução. Mesmo sem concluir a ligação com a BR-040, a obra, se transferida para a gestão da Prefeitura, poderia passar por uma amplia remodelação, resolvendo, inclusive, o trânsito da região.
Quando assumiu o seu primeiro mandato, em 2018, o governador Romeu Zema anunciou a retomada das obras dos hospitais regionais, mas o projeto só começou a sair do papel na sua segunda gestão. Em Juiz de Fora, não. Os entraves burocráticos já teriam sido resolvidos, mas nada mudou no projeto, cuja finalidade tornou-se discutível ante o expressivo número de hospitais disponíveis em Juiz de Fora. Mas o Governo precisa se manifestar se vai mesmo concluir a obra ou vai passá-la para a iniciativa privada. Zema chegou a anunciar que buscava parceiros, mas tudo indica que a busca deu deserta.
A população não se apega à discussão em torno do ano eleitoral. Sua prioridade é única e exclusiva sobre a conclusão das obras com base nas próprias afirmações do presidente. É de fato, uma “desgraça” ver projetos sendo comprometidos pela própria ação do tempo sem uma solução.