PELA MEMÓRIA
Nas idas e vindas dos bastidores do poder, há sempre especulações comparando o ex-presidente Itamar Franco, o vice que assumiu a vaga de Fernando Collor, e Michel Temer, o vice que, na ótica do Planalto e dos seus aliados, conspira pela vaga de Dilma Rousseff. São situações e cenários distintos. Collor tinha um claro envolvimento com ações pouco republicanas, e não apenas o Fiat Elba que serviu de pretexto para a sua deposição. Itamar, que com ele assumiu em 1990, logo percebeu a diferença entre ambos e saiu de cena, rompendo suas relações com o Governo do qual fazia parte, mas sem tomar qualquer iniciativa para apear um presidente eleito pelo voto popular. As ruas fizeram isso.
Enquanto o ex-presidente era filiado a um partido modesto, o atual vice é presidente do principal aliado do Governo e uma das mais poderosas legendas do país, com vasta capilaridade por todo o território nacional. Tem, sim, um problema: o PMDB é uma autêntica federação, fruto, ainda, dos tempos em que era o escoadouro de toda a oposição. Seu presidente não se entende com outros cardeais, bastando ver o comportamento do partido nas discussões em torno do pedido de impeachment da presidente e da deposição do presidente da Câmara.
O Memorial Presidente Itamar Franco, inaugurado ontem, é um espaço vivo para verificação da história do ex-presidente. Suas realizações foram cooptadas por outras legendas e lideranças, que ora batem no peito mostrando virtudes como recuperação econômica ou social, sem dar o devido crédito ao promotor das primeiras ações. O memorial mostra ainda um presidente que tinha contato direto com as ruas, sem intermediações, até mesmo no simples gesto de responder cartas, algo que os poderosos – salvo no período de eleições – ignoram solenemente.