Prioridades de Governo
Embate entre o ministro da Justiça e o presidente da Câmara Federal não ajuda em nada no encaminhamento de matérias importantes, como a reforma da Previdência, no Congresso Nacional
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, está abrindo uma crise desnecessária com a Câmara Federal ao cobrar do presidente, deputado Rodrigo Maia, celeridade na aprovação do pacote de combate à violência encaminhado ao Congresso ainda no primeiro mês do novo Governo. O ministro tem razão ao apontar a necessidade de aprovação da matéria, mas erra no timing e, principalmente, nos ritos. Cobra de Maia como um chefe ao subalterno, ignorando a escala de poder. O parlamentar, além de ser o terceiro na linha sucessória, dirige um poder equivalente ao Executivo. Na relação direta, quem deve falar com o deputado é o presidente da República, e não o ministro.
Pequenos detalhes podem levar a soluções ou a grandes problemas. O ministro tem pressa, mas ignora que deputados e senadores, além de não agirem sob pressão, não atuam em duas frentes tão importantes ao mesmo tempo. A reforma da Previdência, pela orientação do próprio Planalto, é prioridade e enfrenta problemas, sobretudo após a apresentação do pacote de previdência dos militares. Na avaliação de boa parte dos parlamentares, ficou aquém do esperado, sobretudo na contenção de gastos, que ficou abaixo dos R$ 10 bilhões. Ademais, colocar a reformulação do efetivo militar no mesmo pacote não foi a melhor estratégia.
No fechamento de seu terceiro mês de gestão, o presidente Jair Bolsonaro precisa administrar tais questões, embora ele próprio seja uma fonte de incertezas, sobretudo na política internacional. Manter a linha tensa entre o seu ministro e o presidente da Câmara não é a melhor solução, bastando ver os números. A popularidade do seu Governo teve uma queda abrupta, especialmente no Nordeste, região que custou a conquistar. As demais regiões ainda mantêm o apoio, mas, com tantas frentes abertas, o risco não está afastado.
Atuar com foco apenas nas redes sociais é uma estratégia de curto prazo, que dá certo no modelo ação e reação, mas com problemas quando a discussão se aprofunda. O Governo carece de discussões internas profundas antes de explicitar suas metas, pois, sem articulação, corre o risco de ver suas metas bloqueadas. Moro precisa saber disso no trato do seu pacote, e o Governo, mais do que nunca, terá que gastar muita saliva para convencer o Congresso. A reforma da Previdência é necessária sob todos os aspectos, mas sua aprovação não será fruto apenas de um gesto de vontade. Tem que conversar.