BRINCANDO COM FOGO
Com suas manobras protelatórias, próprias para jogar a decisão de seu destino para o ano que vem, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está brincando com fogo, pois, em vez de salvar a pele, está criando condições para soluções mais graves. Se ainda há um clima de apenas afastá-lo do posto com uma advertência, as recentes articulações estão criando um clima de revolta nas ruas e até mesmo dentro do Congresso, apontando para uma possível cassação do seu mandato com repercussão na sua elegibilidade. A manobra da última quinta-feira, que contou com respaldo de sua tropa de choque, pode ter sido um tiro no pé, pois criou no Conselho de Ética – a quem cabe discutir e votar seu processo – uma situação de indignação: Cunha quer atrasar a leitura do primeiro relatório, no qual está clara a sua culpabilidade.
Acuado pelos próprios pares e, sobretudo, pelas ruas, que se manifestam em várias partes do país, o deputado ganhou o protesto até do ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Melo. Mesmo sabendo dos riscos de antecipação de voto em um eventual processo no STF, ele foi claro ao classificar de “lastimável” a postura do parlamentar e defendeu a sua saída da presidência da Câmara. O ministro tem forte poder de influência na Corte e na opinião pública, e seu protesto sinaliza que o deputado pelo Rio de Janeiro perde espaço em várias frentes, fruto, sobretudo, da sua arrogância em se considerar acima da lei.
Não há prazos para finalização do processo, mas o próprio Congresso, a continuar essa litigância protelatória, vai entender, em algum momento, que poderá pagar a conta por um só político que insiste em se manter no posto de comando. Sentada numa cadeira de rodas, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) deu a pista para a opinião pública ao indagar o presidente da Câmara sobre do que ele tinha medo. E, quando essa situação se consolidar, Cunha estará só, como muitos outros que, em algum momento, se consideraram imunes em função dos cargos e acabaram abandonados e até mesmo apeados do poder.