NO MESMO BARCO
Brasília não está fácil para ninguém. Basta cair a popularidade para o inferno astral se acentuar. Depois da presidente Dilma Rousseff, que teve seu nome gritado pelo país afora pedindo a sua renúncia, a bola da vez é o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, por conta da denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter recebido U$ 5 milhões de propina por contratos de aluguel de navios-sonda para a Petrobras. Ele nega e diz que não vai sair, embora um grupo de deputados já esteja disposto a pedir sua cabeça.
Ação e reação fazem parte do jogo político, mas a banalização da renúncia inibe outras medidas que poderiam ser preliminarmente tomadas. Sob grave acusação, o presidente da Câmara, eleito por maioria de seus pares, deveria se afastar temporariamente do cargo até que sua inocência fosse provada. O problema é que os homens são outros, e o momento, também. Quando seu ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi acusado de corrupção, o presidente Itamar Franco pediu que ele se afastasse, o que ocorreu, voltando ao cargo após provar sua inocência. Cunha, certamente, não chegará a tanto.
A situação do presidente da Câmara não difere muito da do presidente do Senado, Renan Calheiros, que também está entre os políticos investigados pela operação “Lava jato”. É apenas uma questão de tempo, pois o procurador, reeleito pelos colegas para mais um mandato, ainda depende da aprovação do Senado.
Em ocorrendo a denúncia contra o senador, as duas mesas do Congresso estarão no âmago da crise, com seus dois presidentes sob investigação. Trata-se de uma situação inédita, que mostra a solidez das instituições, mas aponta que ainda há um longo caminho para evitar embaraços como esses.