Perdeu, playboy

Derrota do Governo no Congresso serve de alerta para a votação de temas relevantes, como a reforma da Previdência e o pacote de combate ao crime organizado e à corrupção


Por Tribuna

21/02/2019 às 07h02

Ao comentar a derrota do Governo na revogação do decreto, por ele assinado, ampliando a lista de servidores com poder de classificar documentos como sigilosos, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, reagiu com bom humor: “Perdeu, playboy”, numa alusão ao texto de autoria da deputada Margarida Salomão (PT). O pano de fundo, porém, é bem mais nítido, pois a Câmara sinalizava ao Planalto que não está disposta a aceitar goela abaixo qualquer proposta do Executivo.

Vitórias e derrotas fazem parte da rotina do poder, mas a sinalização dos deputados ganha significados mais expressivos por causa da pauta apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro. Pessoalmente, ele encaminhou o projeto de reforma da Previdência, dando um simbolismo importante na matéria, mas ainda insuficiente para garantir sua aprovação nos termos propostos pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Para avançar, o Governo precisa de uma base sólida, e aí começam os problemas. O PSL vive um momento crítico, no qual seus dois principais líderes estão em xeque por denúncias de uso de laranjas durante campanhas estaduais. O principal dirigente, Gustavo Bebianno, caiu no início da semana, num impasse de palavras com o presidente da República, enquanto o deputado Luciano Bivar, seu sucessor no comando da legenda, foi chamado para uma conversa no Planalto com o presidente. O resultado do encontro não foi divulgado, mas depreende-se que a meta foi colocar as cartas na mesa para resolução desses problemas.

O que mais preocupa, a essa altura do campeonato, é a base frágil num Congresso de raposas políticas. O líder do Governo é colocado frequentemente em dúvida, por ser não apenas um cristão novo no Parlamento, mas por não ter trânsito entre as demais legendas, dado necessário para aprovação de temas de tamanha relevância, como a mudança na Previdência e o pacote do ministro Sérgio Moro.

Embora fosse do baixo clero, o presidente da República, nos seus 28 anos de Câmara Federal, conhece os ritos e, certamente, terá que agir para evitar danos ao projeto esperado com expectativa pela sociedade. Há anos, ensaia-se uma mudança no modelo de aposentadoria, mas nenhum Governo teve sustentação suficiente para ir adiante. Agora, ainda em lua de mel com as ruas e diante de um Congresso remodelado, não pode deixar ir pelos dedos essa oportunidade.

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