PÚBLICO E PRIVADO
As eleições municipais deste ano serão o primeiro teste para uma disputa sem financiamento privado de campanha, servindo, também, de amostra para o pleito de 2018, quando, além da Presidência da República e do Congresso, estarão sendo renovados os postos nas assembleias legislativas e governos estaduais, o qual será, este sim, o grande momento para verificar se a restrição valeu a pena. Até então, a legislação permitia doações, mas davam margem para relações tipo “toma lá, dá cá”.
O jornal “O Globo”, na sua edição de ontem, mostrou uma das faces desse processo ao revelar detalhes de uma investigação da Polícia Federal na qual o ex-deputado Geddel Vieira Lima, um dos próceres do PMDB, tanto na condição de ministro de Estado quanto na de vice-presidente da Caixa Econômica Federal, atuou fortemente em defesa dos interesses da OAS. Ele disse que atuar em nome dos empresários fazia parte de suas atribuições, não vendo qualquer irregularidade. Os e-mails levantados pelos agentes, no entanto, apontam para outra direção.
As relações entre público e privado por si só não são e nem devem ser vistas como um problema, pois o Governo deve atuar como indutor do crescimento, abrindo linhas de incentivo para o setor produtivo, o problema é quando elas caem para abaixo da linha da cintura, tornando-se um negócio pouco republicano. O fim do financiamento foi um primeiro passo, mas é preciso ir além, pois, paradoxalmente, criou-se mais um indutor para o caixa dois, e, com ele, sem qualquer registro, a troca de vantagens tende a aumentar.