PREÇO DA VIDA
O assassinato de uma adolescente de apenas 16 anos, com autoria atribuída a uma de 17, por causa de espaço num varal, é indicativo da banalização da violência que perpassa o dia a dia da sociedade. O preço da vida tornou-se precário, acentuando o quadro de insegurança que afeta a tudo e a todos. Por diversas razões, os jovens continuam no topo das listas de vítimas e autores, apontando para a necessidade de políticas públicas mais amplas, e não apenas o risível debate da maioridade penal. A discussão não pode se prender apenas ao lado policial, pois o viés vai além disso. Questões como falta de oportunidade, visão de mundo, impunidade e busca de identidade são próprias dos novos tempos e que afetam principalmente essa faixa.
É fato que, na instância criminal, fatores indutores como o tráfico de drogas e enfrentamento de gangues não podem ser dispensados. Ao contrário, as drogas, mais do que outros, são um dos anabolizantes das ocorrências, com jovens sendo cooptados pelos traficantes. Na busca do lucro fácil e até mesmo para identificação com o grupo, aceitam ritos de passagem e o trabalho de mulas, como atestam as estatísticas. O país, agora, discute a descriminalização de drogas de menor impacto, como a maconha, numa clara admissão de que a guerra está sendo perdida.
O perverso desse enredo, porém, é que não se trata apenas de drogas. Os jovens estão submetidos também a outros apelos, que fazem deles presas fáceis da violência. O caso em questão é emblemático, pois indica a avaliação da vida como um bem menor. As diferenças não estão mais sendo tiradas no debate ou até mesmo em ásperas discussões. Num cenário de Odorico Paraguaçu, partem para os finalmentes, sem avaliação dos danos. E aí perdem todos. A vítima, pelo fato natural de perder a vida, e a autora, que, mesmo sendo beneficiada pela inimputabilidade, irá responder ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê seu afastamento da vida social. Além disso, terá, para sempre, a marca da violência em seu histórico.