Nossos mecenas
Enquanto a Igreja de Notre-Dame já conseguiu doações para sua recuperação, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, incendiado há sete meses, ainda não adquiriu nem um décimo desse valor
Três dias após o incêndio da Igreja Notre-Dame, um dos principais símbolos de país e um ícone da sociedade ocidental, o presidente francês, Emanuel Macron, estabeleceu o prazo de cinco anos para a sua recuperação. No dia seguinte, mais de R$ 3 bilhões já tinham sido doados para a execução das obras, vindos de bilionários – inclusive do Brasil – dispostos a colaborar para a retomada das atividades plenas do tempo de mais de 800 anos na Isle de France, onde nasceu a capital.
O mecenato explicitado nas doações não é estranho em países do chamado primeiro mundo, no qual grandes fortunas são responsáveis pela manutenção de espaços culturais, como museus, galerias e universidades, como parte da compensação do que levaram ao seu enriquecimento.
Em contraponto, o Museu Nacional, um dos espaços mais importantes da história do país, pois foi residência da família imperial e transformado num dos principais museus do Brasil, ainda carece de investimentos para a sua recuperação. Destruído no dia 2 de setembro do ano passado, num sinistro considerado a maior tragédia museológica do mundo, não recebeu nem parte do que será necessário para a sua recuperação.
Pelas contas, foi arrecadado apenas o valor de R$ 1,5 milhão, um escárnio diante do que foi doado por uma bilionária brasileira para a recuperação da Notre-Dame.
Mas é raso estabelecer comparações entre as elites europeias e brasileiras numa situação tão crítica. Há vários componentes que precisam ser levados em conta antes de se colocar todos na cruz, como é próprio das redes sociais. Enquanto os franceses já fazem até concurso internacional para o melhor projeto de recuperação do pináculo central da Igreja, não há notícias no território tupiniquim de alguma iniciativa nesse sentido.
Não há, sequer, uma projeção de custos para a recuperação do museu, a despeito de sua importância não apenas para o país, mas para a própria América Latina. Os governos, em todas as instâncias, ficam em silêncio, e não se percebem ações para a recuperação do espaço na Quinta da Boa Vista.
Triste do país que relega seus acervos ao segundo plano, não zelando pela sua manutenção. Que o exemplo da França mude essa leitura. O museu agradece.