Eleição presidencial tornou-se a agenda prioritária dos políticos

Governo e oposição atuam com o olhar já voltado para a eleição presidencial, embora o Governo Lula esteja apenas iniciando a segunda metade do mandato


Por Paulo Cesar Magella

19/02/2025 às 12h23

Um dos problemas enfrentados pelos executivos, em qualquer uma das três instâncias de poder (federal, estadual ou municipal), passa pelo desvirtuamento da agenda por conta das eleições. As principais questões costumam ficar em segundo plano, dando espaço para discussões sobre postos e projetos voltados unicamente para o próximo pleito. Passada a eleição para as prefeituras e as câmaras municipais, não se fala em outra coisa a não ser a eleição presidencial de 2026. A oposição reúne suas forças e cria obstáculos permanentes para projetos do Executivo de plantão.
Por outro lado, as ações oficiais esbarram não apenas nos antagonistas, mas também nos próprios fatos. As recentes pesquisas de opinião pública apontam para uma queda abissal no prestígio do mandato do presidente Lula, inclusive em regiões como o Nordeste, nas quais sempre foi líder em audiência. E fica claro que o Governo está sem saída ante o agravamento dessas demandas, somadas à economia. O preço dos alimentos impacta diretamente a mesa dos eleitores, com maior incidência nas camadas que até então deram sustentação ao presidente Lula.
Até mesmo em seu entorno há preocupação. A carta-manifesto publicada no último domingo pelo advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, foi emblemática por tratar-se de um aliado histórico do presidente. A festa de posse foi em sua residência. O documento enviado a ministros e aliados do presidente, com ampla divulgação nas redes sociais e nos veículos de comunicação, com duras críticas ao mandatário, não é um ato isolado, nem pode ser classificado de fogo amigo.
Kakay é membro ativo do Prerrogativas, grupo formado por juristas, advogados e acadêmicos de Direito de orientação progressista. O “Prerrô”, como é conhecido, se notabilizou pelas críticas à operação Lava Jato e pela atuação judicial contra a prisão em segunda instância.
Esse mesmo personagem diz que “Lula do terceiro mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado”. O Planalto não gostou, mas percebeu que o jogo agora é outro. A oposição está muito mais articulada, e vários players da direita para além do ex-presidente Jair Bolsonaro estão ativamente nas redes apontando para um cenário de mudanças.
Lula derrotaria todos os adversários se a eleição fosse hoje, mas, se não barrar os desgastes, corre o risco de ter números mais desconfortáveis nas próximas avaliações. Para Kakay, a pesquisa de maior relevância ao quadro político é a divulgada pelo Ipec no sábado, 15, que aponta que 62% dos brasileiros não querem que Lula concorra à reeleição no próximo pleito. O índice, segundo o criminalista, preocupa diante da inexistência de um “sucessor natural” de Lula.
Faz sentido, pois, enquanto todas as fichas do Governo continuam – até por uma questão óbvia – colocadas no presidente, a oposição tem candidatos de sobra, mesmo se Bolsonaro não conseguir se viabilizar juridicamente para 2026. A fila começa com os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Romeu Zema, de Minas; Ronaldo Caiado, de Goiás, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e o cantor sertanejo Gusttavo Lima, o mais bem situado nas pesquisas. Nomes, portanto, não faltam.
Na Esplanada dos Ministérios, sem Lula, a opção seria o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Este, no entanto, vive sob fogo amigo, como na última terça-feira, quando o núcleo duro do Governo, ao avaliar as consequências do mau desempenho nas pesquisas, imputou a culpa majoritariamente ao ministro. Por sinal, em viagem ao Oriente Médio, Haddad não teve, sequer, a chance de se defender.

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