Dois em um

Governo encaminha projetos da Previdência e de combate à violência ao mesmo tempo, o que pode ser um problema, mas também uma estratégia para ganhar força no Congresso


Por Tribuna

19/02/2019 às 07h02

O presidente Jair Bolsonaro está disposto a encaminhar ao Congresso Nacional dois projetos de extrema relevância ao mesmo tempo: a reforma da Previdência, encabeçada pelo ministro Paulo Guedes, e o projeto de combate à violência, chancelado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. É uma aposta alta, pois coloca na agenda dos parlamentares dois assuntos que chamam a atenção da população por terem reflexo direto em suas vidas. O primeiro envolve a aposentadoria, dado precioso na vida de qualquer cidadão; o segundo, o enfrentamento à violência, que em algumas regiões chegou a níveis inaceitáveis.

Não se sabe qual a estratégia do Governo, mas o pacote dois em um divide opiniões entre os analistas, sobretudo por se anularem em termos de atenção. É fato que o projeto de Moro é mais palatável à opinião pública por ter sido amplamente falado nos palanques de campanha. Há pontos que precisam passar por revisão, mas, no geral, a norma cumpre o que as ruas pediram: mais rigidez contra o crime organizado e punições mais duras no combate à corrupção.

A reforma está em outro patamar. Tentada por vários governos, a mudança na Previdência tem sido um desafio para todos os gestores que passaram recentemente pelo Planalto desde a administração tucana de Fernando Henrique Cardoso. As alterações foram mínimas diante do que é preciso fazer para garantir o futuro dos trabalhadores que ora ingressam no mercado. Durante a campanha, o presidente Bolsonaro prometeu ir fundo na questão. Resta, agora, o diálogo com o Congresso.

E este é o principal ponto a ser avaliado pelo Planalto. O Congresso é uma clara estratificação da sociedade, e nem todos os segmentos estão dispostos a uma mudança tão drástica, a despeito de ela ser necessária. Por isso, aproveitar a lua de mel com as ruas e fazer dessa relação um fator de pressão sobre os parlamentares é o ponto a ser perseguido.
Mas, para isso, em vez da intimidação que tem marcado as últimas ações das instâncias de poder, é preciso conversar, pois o Congresso que emergiu das urnas sabe que é preciso fazer alguma coisa, sob o risco de não haver outra chance para uma medida tão importante.

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