CERCO SE FECHA
Na última segunda-feira, ao ser interpelado pelos repórteres, quando saía de mais um depoimento na Polícia Federal, o lobista Fernando Baiano afirmou, em tom enigmático, que ainda viria muita coisa pela frente.Como não deu detalhes, é de se esperar que novos atores entrem no palco da “Lava jato” ou ganhem papel de destaque nesse enredo, que vira as instâncias de poder ao avesso e deixa muitos personagens em processo de insônia, principalmente se, em nome de uma impunidade de longos anos, fizeram negócios pouco republicanos. E é nesse contexto que se situa o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, da saída do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara, em razão de, por força do cargo, estar obstruindo as investigações, inclusive dentro da própria instituição, com as idas e vindas do Conselho de Ética.
Ontem, surgiu um novo ingrediente. Acolhido pela delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter pagado US$ 6 milhões em propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros, e ao senador Jáder Barbalho, ambos do PMDB. O petista Delcídio do Amaral, ora preso, teria recebido US$ 2 milhões. É fato que qualquer delação carece de confirmação, mas num momento em que tem a corda no pescoço e sabe que não pode mentir, sob o risco de voltar para o cárcere, Cerveró coloca mais lenha na fogueira, pois amplia as dúvidas também sobre o presidente do Senado, já investigado pela operação.
O ano se aproxima do fim numa situação em que os dois presidentes das casas legislativas estão sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, e a presidente da República enfrenta um processo de admissibilidade do seu impeachment. Com uma crise política de tal magnitude, não há economia que resista, ainda mais quando a sua condução foi temerária, e agora os danos se acentuam.