CORDA ESTICADA
O discurso da presidente Dilma Rousseff, ao dar posse ao ex-presidente Lula na Casa Civil de seu Governo, refletiu a sua indignação pessoal com os episódios da véspera – quando foram divulgados grampos, entre os quais, uma conversa dela com o antecessor -, mas soou, além disso, como um recado à própria militância de que é preciso reagir. Ela anunciou medidas drásticas para apurar os fatos, mas enfatizou os riscos de tais atitudes, pois levaram à sublevação, “e todos sabem onde isso acaba”.
Não se esperava um discurso diferente tal a repercussão do fato, que levou milhares de pessoas de volta às ruas em protesto pela decisão da posse, mas há, também, nesse aspecto um viés preocupante: quem irá fazer pontes para evitar um mal maior? As falas do ex-presidente, embora particulares, o que lhe permite usar qualquer termo, apontam para um entrave a mais no diálogo com setores que precisam, necessariamente, ser chamados ao diálogo, a começar pelo Congresso, a quem classificou de acovardado.
Enquanto perdurar o embate do nós contra eles, são poucas as possibilidades de um entendimento no curto prazo. E aí surge uma nova questão: o país suportará esse confronto por quanto tempo; e a economia, como vai se comportar? Num momento em que a política paralisa o país, deve ser por ela também a saída, o que exige, sobretudo, diálogo, algo em falta na atual conjuntura. Ademais, quem seriam esses interlocutores?
Hoje, como já estava marcado, será a vez de os defensores do Governo irem às ruas, mas não se sabe como será a manifestação ante a tensão que se estabeleceu nas últimas 48 horas. Pessoas de bom senso terão que intermediar as demandas do momento, pois, no atual, todos perdem.