NOVO AVISO
As sucessivas pesquisas de opinião pública têm apontado, de forma recorrente, a redução do prestígio da política. Em todas as instâncias, lideranças do Executivo e do Legislativo passam por um desgaste que só se acentua. Nas manifestações de domingo, quando milhões de pessoas foram às ruas protestar contra o Governo da presidente Dilma, envolvendo também o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Lula, agora indicado para a Casa Civil, repetiu-se a cena de junho de 2013: os partidos ficaram à margem, e alguns de seus líderes, mesmo de oposição, foram hostilizados.
A leitura do episódio não deve ser simplista e nem pode ser deixada à margem das análises. As ruas mostraram sua insatisfação com o establishment, apontando para um perigoso viés apolítico. As exaltações ao juiz Sérgio Moro, por exemplo, repetem o ciclo do mensalão, quando o ministro Joaquim Barbosa, então relator do processo, tornou-se a figura emblemática do protesto. O aspecto moral está se sobrepondo ao político.
Há justificativas para esse sentimento em função do desgaste de material forçado pelos próprios políticos. Não conseguiram, sequer, fazer uma reforma decente e ainda estão envolvidos até o pescoço com os escândalos, resultado, na maioria das vezes, do balcão que se instalou principalmente no Congresso, fruto do presidencialismo de coalizão. O Governo tem o poder de agenda, mas precisa dos partidos; estes entram na base sob a condição de obter vantagens.
Enquanto não houver mudanças profundas, o país passa a viver crises sistêmicas, pois não encontrou a saída. O grave desse enredo é o risco de a política ser colocada à parte na construção de soluções. Quando isso, acontece, em boa parte, o resultado não tem sido bom.