Eleitor está atento ao jogo político na segurança pública

A votação de projetos envolvendo a segurança pública precisa se afastar do antagonismo ideológico, sobretudo quando o interesse é coletivo


Por Paulo Cesar Magella

16/11/2025 às 06h00

A dificuldade na votação do projeto de lei que trata das facções decorre tanto do viés ideológico do Governo e da oposição quanto do calendário eleitoral do ano que vem. Ambos os lados já perceberam que a segurança pública será o tema central da campanha, o que cria obstáculos ao consenso necessário para aprovar uma norma capaz de enfrentar de fato os grupos que controlam territórios nas principais metrópoles do país.
As pesquisas recentes mostram que o eleitor está atento ao debate e cobrará dos candidatos respostas objetivas para sua principal demanda do momento: segurança. Na semana passada, o instituto Quaest divulgou novo levantamento realizado no início do mês para medir os reflexos da megaoperação das polícias do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão.
O primeiro recorte avaliou como a população interpretou a operação. A maioria apoiou a ação, mas o presidente Lula, ao classificar o episódio como “matança” – posição respaldada por diversas entidades -, assumiu um risco que o levantamento confirmou: o avanço de sua popularidade, iniciado após o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estagnou. Com isso, a oposição, que vinha perdendo terreno na disputa narrativa, voltou a ganhar espaço.
Lula segue à frente nas intenções de voto, mas já enxerga concorrentes no retrovisor, sobretudo seu antecessor, Jair Bolsonaro, que, mesmo inelegível, permanece como principal referência da direita e fiador de quem será o candidato do campo. Em uma simulação de segundo turno, eles aparecem tecnicamente empatados, com 42% a 39%.
A diferença do presidente caiu em todos os cenários. No caso mineiro, por exemplo, se o adversário fosse o governador Romeu Zema, a vantagem, antes de 15 pontos percentuais, seria hoje de apenas sete. Lula teria 43% das preferências, e Zema, 36%.
É verdade que pesquisas capturam o passado ou, no máximo, o presente. Ainda assim, os pré-candidatos já entenderam que a segurança pública pode definir o embate. Por isso não surpreende o impasse em torno dos projetos em tramitação. O ponto central é a decisão política: vale a pena bloquear propostas dos adversários mesmo quando elas atendem a um interesse real da população?
Manter essa estratégia pode render ganhos imediatos, mas, dependendo dos efeitos concretos nas ruas, tende a se tornar fator decisivo. O eleitor, como a própria pesquisa indica, está observando de perto o que os políticos fazem em Brasília.
O relator do Projeto de Lei das Facções, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), afirma que a matéria será votada ainda esta semana. No entanto, considerando o jogo de gato e rato instalado no Congresso, a garantia é frágil. Os governadores – também voltados para as urnas – querem desempenhar papel de destaque no debate, não por desconfiança em relação às bancadas estaduais, mas por entenderem que esse protagonismo é um holofote valioso na corrida eleitoral já em curso.

 

 

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