Meliponário Mel Mágico cria 36 espécies de abelha sem ferrão
O trabalho realizado pelos meliponicultores faz parte de um movimento que valoriza a produção das abelhas, seja por seus impactos ambientais, econômicos ou mesmo culturais

O Meliponário Mel Mágico fica a três quilômetros do Centro de Andrelândia, na Serra da Mantiqueira, e guarda como tesouro as 36 espécies de abelhas sem ferrão que tem em manejo. A localidade, entre a Mata Atlântica e o Cerrado, forma uma das regiões mais biodiversas de espécies do Brasil, tendo também clima próprio para o desenvolvimento das abelhas, incluindo as subterrâneas e subaquáticas. O trabalho realizado pelos meliponicultores faz parte de um movimento que valoriza a produção das abelhas, seja por seus impactos ambientais, econômicos ou mesmo culturais, já que as espécies são necessárias para a regeneração das florestas e alimentação de inúmeros animais que dependem desses frutos e sementes. O espaço fica aberto para visitação, para quem quer aprender mais sobre os insetos, e também conta com a produção de mel e hidromel.

São 250 colmeias que compõem o meliponário, que fica na cidade do Sul de Minas Gerais a cerca de 2h de Juiz de Fora. Quem guia a visita é o apaixonado por abelhas Robson Neto, de 14 anos, que começou a se interessar pelos insetos vendo vídeos no YouTube. Ele começou a aprender sobre as abelhas por hobby — o que não é incomum hoje em dia. Mas foi aprendendo mais nesse meliponário que entendeu que aquilo também era algo que queria levar pra vida. “Estamos em uma das regiões mais abençoadas para essas abelhas.” Por isso, explica, é possível ter as variedades, muitas nativas, mas também as vindas de outros locais e que se adaptam bem lá. Entre as que costumam chamar mais atenção dos visitantes estão a Mombucão, que é a abelha sem ferrão e que se tornou a mais cara do mundo devido à sua raridade, e a lambe-olhos, que é a menor espécie existente, com cerca de 3mm.
Cada abelha do Mel Mágico está em caixas pintadas, o que faz com que Robson considere esse espaço o meliponário mais bonito do Brasil. Em cada uma dessas caixas estão as colmeias, onde as abelhas vivem em colônias organizadas e com divisão de funções entre rainha, operárias e, em determinados períodos, zangões. Toda a estrutura interna da colmeia — chamada de ninho — é construída com uma mistura de cera e resinas vegetais (o cerume), o que garante proteção, ventilação e controle da umidade. Dentro desses locais, há ainda, conforme explica Robson, os discos horizontais, empilhados como “prateleiras”, ligados por pequenos pilares de cera, potes de mel e de pólen e envoltório protetor.
“Cada abelha aqui tem sua peculiaridade”, continua Robson. É por isso que o mel produzido por elas também gera sabores diferentes. Ele explica que ainda há quem diga que as abelhas sem ferrão não fazem mel saboroso, mas é “a maior mentira”: ele garante que são vários os produtos gerados por elas, com alta qualidade, e que são retirados cuidadosamente por ele, com seringa ou sugador próprio. No entanto, no site em que vendem os produtos, o carro chefe ainda é o mel das abelhas com ferrão, seguido do hidromel. “O processo do hidromel é bem complicado. Os vikings chamavam de ‘néctar dos deuses’, mas hoje tem muita gente que falsifica, economizando em ingredientes como fermento e até usando uma água de má qualidade”, explica, dizendo que o processo total de produção, com fermentação e maturação, é de seis meses.
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Mel, pólen e própolis
O mel, o pólen e o própolis são alguns dos produtos criados pelas abelhas que mais chamam atenção — inclusive porque são gerados em processos necessários para a vida delas. Tanto no caso das abelhas com ou sem ferrão, Robson explica que o pólen é um dos alimentos mais importantes para as crias. “O mel é o alimento energético, que pode ser substituído por xaropes de açúcar ou garapa para suplementação quando fazemos transferências ou divisões. Já o pólen também pode ser suplementado, mas precisa ser substituído por soja e farinha de milho” – explica ele, sobre as diferenças entre os dois.
O própolis, por sua vez, é o que elas usam para vedar as frestas da caixa. “Por exemplo, o própolis da abelha mandaçaia pode matar até os mosquitos transmissores da dengue”, explica Robson. Ele tem função antifúngica e bactericida que impossibilita que predadores entrem. Além da proteção do ninho, o própolis também pode ser usado para o consumo humano, quando os responsáveis coletam pequenas porções que se acumula nas paredes e frestas das caixas, sempre sem comprometer a estrutura da colmeia. Depois de extraído, esse material passa por processos de limpeza e pode ser transformado em extratos alcoólicos e aquosos, que são usados como suplementos naturais devido às suas propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias.
Reflorestamento
As abelhas sem ferrão, como explica, são responsáveis pela polinização das plantas nativas e afetam diretamente a reprodução de árvores, arbustos e flores. Além disso, são responsáveis por plantas polinizadas exclusivamente por elas. Reflexo disso é a mudança no cenário que ele mesmo já pôde observar: “Muita gente me conta que aqui, há 50 anos, só tinha mata. Mas agora é só campo. O reflorestamento em algumas regiões só acontece por causa das abelhas, e a gente vê isso mudando aqui”, completa. É algo que ele entende que o mundo também vem percebendo: o Japão, por exemplo, vem importando esses insetos para fazer a polinização dos morangos pela capacidade das abelhas de aumentar a produção e a qualidade das frutas. Com esse cenário, Robson tem uma certeza: “Meu plano é fazer isso até morrer”.










