ESTADO POLICIAL
No mesmo dia em que a Polícia Federal recolhia documentos e apreendia três carros de luxo importados na Casa da Dinda, o senador Fernando Collor de Mello – dono do imóvel e dos veículos – ocupou a tribuna para desancar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando-o de implantar um clima policial no país. Não houve apartes, mas o assentimento dos pares era visível com acenos de cabeça. Afinal, além do ex-presidente da República, outros parlamentares vivem situação semelhante, sob a suspeita de uso indevido de dinheiro público.
Janot, que concorre a mais um mandato, pode ter assinado sua sentença, pois sua aprovação passa, necessariamente, pelo Senado, mas cumpre o dever de casa ao dar andamento isonômico às investigações. Ademais, não atropelou a lei, pois a ação dos agentes estava escudada em ordem de três ministros do Supremo Tribunal Federal.
O que pode ser discutido é a extensão das investigações. Quando se abre um leque tão extenso, criam-se também condições para a impunidade. Ações pontuais e gradativas talvez fossem mais eficazes, já que, pelo que se viu e se vê, a contaminação da ação pública ocorre por todos os lados. O estado policial denunciado por Collor pode, em vez de um avanço, ser um problema, pois chegará um momento de impasse em que não restarão inocentes. E aí, como é que fica?
A “Lava jato” já tem material suficiente para enquadrar uma parcela importante da instância política e do PIB nacional, carecendo, já, de um desfecho não para o encerramento das operações mas para dar margem a punições, via julgamentos e espaço, aí sim, para outras investigações.