Pelas ferrovias
O país tem muitos desafios, e a mobilidade é um deles, o que leva os governos, em todas as instâncias – especialmente o federal -, a reverem conceitos, a fim de garantir eficiência da sua infraestrutura
Ao dar prioridade ao transporte rodoviário, com a abertura de novas estradas, o país fez uma opção importante, sem considerar o futuro, mesmo sabendo que sempre há riscos de se colocarem todos os ovos numa única cesta. A conta, agora, começa a ser cobrada. Enquanto países do primeiro mundo abriram estradas, mas não se desfizeram do modal ferroviário, no Brasil, o sucateamento das linhas de trem tornou-se um problema: as estações viraram museus e as ferrovias, um arremedo de outros tempos.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro impediu o aumento do preço do óleo diesel, temendo problemas com os caminhoneiros, mas seu gesto, sem ouvir sequer a área econômica, jogou o preço das ações da Petrobras para baixo, com um prejuízo acentuado no mercado internacional.
Mas a lição a ser tirada não se prende à ação do presidente, também praticada em outras gestões. O dado principal é a ausência de um modal que tire a pressão exercida pelos caminhoneiros. Se o país tivesse mantido o modelo ferroviário, cujos custos são bem mais baratos, não teria que ceder, contrariando os princípios da própria economia. Enquanto essa questão não for resolvida, não haverá alternativas.
Recuperar as ferrovias é um processo caro, mas otimizar aquelas que ainda estão disponíveis deveria ser uma prioridade de Estado, sobretudo num país de dimensões continentais. Na Europa, onde se situam os melhores exemplos, há uma divisão de modais. As ferrovias escoam a produção, mas também são responsáveis pelo trânsito de passageiros, inclusive de um país para o outro.
Além disso, o Brasil priorizou as rodovias apenas pela metade. Abriu estradas, mas não zelou pela sua qualidade. Hoje, elas são armadilhas para todos os usuários, pela falta de manutenção, bastando acompanhar o noticiário. Há trechos que não permitem o mínimo trânsito de veículos; em outros, faltam acostamento e sinalização adequada. O resultado são vidas perdidas e custo de transporte mais caro, pois nem sempre há a garantia de entrega dos produtos no tempo previsto.