Pesquisas à míngua
Produzir pesquisa é interferir na qualidade de vida das pessoas, e governos dos países que geram mais riquezas apostam sempre na expansão de seus estudos e na valorização de seus pesquisadores
As pesquisas científicas nas universidades públicas estão seriamente ameaçadas em todo o país diante da crise econômica e financeira. Esta semana, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgou que deixou de receber repasses da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que totalizam quase R$ 24 milhões. Sem esses recursos, as pesquisas da instituição já em andamento estão comprometidas.
É mais um setor brasileiro afetado diante de cortes orçamentários. Representantes das universidades e associações científicas localizadas em Minas, cientes da gravidade da situação, estiveram reunidos e escreveram uma carta na qual cobram do Governo de Minas a integralidade dos repasses da Fapemig. O ano de 2015 foi o último em que a fundação fez esse repasse de maneira total. É importante que se ressalte que, mesmo em crise, quase todas as pesquisas da atualidade no país são feitas nas universidades públicas.
De acordo com o próprio presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, 1% da receita orçamentária corrente ordinária do Estado deveria ser da Fapemig, pela cota que lhe é garantida através da Constituição mineira. No entanto, esse percentual não vem sendo cumprido. No ano passado, por exemplo, o repasse foi de apenas 30% do valor constitucional. A falta de recursos para investimento em pesquisa nas universidades públicas brasileiras é um problema complexo e de consequências graves que poderão ser sentidas a longo prazo, atrasando um círculo de crescimento do desenvolvimento científico e tecnológico do país por muitos anos.
Dessa maneira, fica evidente que, nos períodos de crise, a pesquisa é mesmo relegada ao segundo plano pelos governos. Não é hora, porém, de todos os reitores das instituições e a sociedade de maneira geral apenas reclamarem e desistirem de levar o país às pesquisas de ponta mundiais. É preciso arregaçar as mangas para tentar manter a qualificação de nossas instituições e, como propuseram os próprios dirigentes das universidades que tiveram um encontro em Belo Horizonte, buscar conduzir debates e estudos, aproximando-se do Governo e da sociedade. A ideia é tentar buscar diversificação da matriz econômica e fazer com que este cenário não seja destruidor do campo fértil das universidades que precisam continuar desenvolvendo suas pesquisas.
Um dos primeiros passos deve ser entender que impacto a falta de verbas da Fapemig causou, que pesquisas foram afetadas e como fazer com cada uma delas. É preciso também ficar evidente para a população que as pesquisas são importantes não somente para o campo universitário e para os pesquisadores afetados diretamente, mas para todo um projeto científico que colabora para o desenvolvimento regional, de todo o estado e também de uma nação.
É bom lembrar que produzir pesquisa é interferir na qualidade de vida das pessoas e que governos dos países que geram mais riquezas apostam sempre na expansão de suas pesquisas e na valorização de seus pesquisadores como alternativa primeira. Caminho este que gostaríamos de ver também ocorrendo no Brasil, lembrando que pesquisa e educação andam juntas.