Crises em sequência

Governo precisa sair dos impasses formados pelo viés familiar em conflito com a instância pública


Por Tribuna

16/02/2019 às 07h05- Atualizada 18/02/2019 às 10h24

Em meio a um debate de viés particular, no qual um dos filhos do presidente emparedou um ministro de Estado com o aval do pai, finalmente foi apresentado o pacote da Previdência, em que a idade mínima, dentro de um período de carência, chegará a 65 anos para os homens e 62 para as mulheres. O próprio presidente fechou nesses prazos e segue, agora, para a parte mais difícil da questão: a aprovação do Congresso Nacional.

Há uma máxima que diz que o mal deve ser feito de uma só vez, enquanto a bondade deve ser servida em doses. Se a reforma for interpretada como um mal – o que não é -, sua implementação tem que ser feita já nesse primeiro semestre, período em que o Governo ainda se sustenta da popularidade conquistada nas urnas. Ademais, deputados e senadores, recém-referendados pelas ruas, só voltarão a se encontrar com o eleitor em 2022, havendo tempo suficiente para recuperarem um possível prestígio perdido na votação da matéria.

Mas não será uma tarefa fácil. Por isso, o presidente fez bem em manter o ministro Carlos Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência da República, pois sustentar uma discussão interna de tamanha relevância e ter uma reforma em trânsito no Congresso é temerário.

O Governo tem que reunir toda a sua força para passar o pacote, mas carece de reduzir a tensão no seu próprio reduto. O PSL, comandado por Bebianno, vive disputas internas também com seu líder Luciano Bivar – com quem o juiz-forano Charlles Evangelista bateu de frente – e precisa ser a âncora da discussão. Com seus líderes em xeque, terá problemas para enfrentar o rolo compressor da oposição, capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores, recentemente apeado do poder.

Quem melhor personificou tal preocupação foi o ministro Paulo Guedes, a quem Bolsonaro deu poderes absolutos para tocar a pauta econômica. Pragmático, ele já percebeu que o Governo não pode se mostrar fragilizado diante de um Congresso renovado, com disposição de referendar as mudanças encetadas pelo Planalto, mas inseguro diante dos impasses na própria estrutura de poder. O ministro pode até permanecer no cargo, mas estará fragilizado. Com gabinete ao lado da sala do presidente, terá constrangimentos com o próprio chefe.

Com os detalhes da reforma já nas ruas, a discussão será amplificada, e o Governo terá que usar todo o seu prestígio para mostrar à opinião pública a importância da mudança. Mas só fará isso com eficiência quando estiver pacificado internamente.

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