BRINCANDO COM FOGO
A notícia de que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vai aproveitar os próximos dias para anular todos os atos praticados pelo Conselho de Ética, retornando à estaca zero as questões em torno de seu mandato como presidente da Câmara, soa como um escárnio. O presidente do Legislativo age como se fosse um ser acima da lei, buscando brechas onde não existem e lutando contra tudo e contra todos para se manter no cargo e até mesmo o mandato.
Mas até quando? A Câmara Federal vive um desgaste inédito, como se os deputados brincassem com fogo ao não tomarem uma decisão. O Conselho de Ética, onde os debates se desenvolvem, está mais para circo do que para um espaço de discussão sobre o comportamento dos parlamentares. Numa das últimas sessões, o próprio presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo, indagou aos pares sobre que exemplo queriam passar para seus familiares e para os eleitores com lances de pugilato e discussões estéreis entre os seus membros. Não houve resposta, mas as cenas percorreram o país.
O Conselho de Ética já realizou quase dez reuniões sem que o tema andasse. O primeiro relator foi afastado, e o atual, que foi literalmente agredido por um parlamentar da tropa de choque de Cunha, ainda não conseguiu elaborar seu relatório.
Tal situação é degradante para a Câmara, sobretudo num momento em que pode analisar uma questão polêmica, como a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente da República. Com que moral os deputados levarão uma discussão adiante se não conseguem, sequer, resolver suas demandas internas?